quinta-feira, 18 de novembro de 2010

INTERNET




INTERESSANTE INTERNET STRESSANTE E FASCINANTE
Caro Varella,
Este assunto me fascina e por vezes me assusta. Pois os caminhos que podem e devem ser percorridos são incomensuráveis. Há de se notar duas variáveis muito interessantes: 1. àquilo que diz respeito aos meios de comunicação; 2. o que mudou na vida da nova geração.
Ainda há pouco participei de um Fórum do PARFOR (programa do MEC para a graduação de professores do ensino fundamental e médio) e, neste, houveram várias questões pertinentes, mas uma me chamou mais a atenção pela facilidade com que pode ser resolvido alguns problemas de ensino/acompanhamento à distância. Como acompanhar os professores-alunos (PA) nos períodos de elaboração dos trabalhos e, como promover a interdisciplinaridade dos mesmos?
A meu ver, a única forma é a que já temos, isto é, a Internet, a segunda, é como estabelecer estrutura que permita este acesso. Então temos, neste item, dois aspectos importantes: prover de uma estrutura mínima as escolas para acesso dos PA e, propiciar o acesso dos mesmos. Então, temos que ter, uma sala para este fim e, uma disciplina de Informática para que eles aprendam o básico: Word, internet, e-mail e Skype para a comunicação webcaniana com o professor-tutor (PT) e, ainda, caso seja interdisciplinar, uma rede de conexão virtual coletiva em que possamos nos encontrar ao mesmo tempo em lugares diferentes. São formas sofisticadas, mas possíveis. Caso contrário, a interdisciplinaridade e o acompanhamento não serão exequíveis.
O outro ponto, diz questão aos adolescentes. Sabemos que o mundo virtual, a cada dia se torna real. A internet para eles não é apenas um veículo de comunicação, mas além disso, é uma vivência natural, é um relacionamento vivencial. Não há um hiato entre o mundo virtual e real como nós o concebemos. Para eles, é a extensão da própria vida. E, por isso, comporta em si mesmo a complexidade da vida humana. Os perigos, as surpresas, o acaso e todas as vicissitudes da vida transosmotiza-se virtualmente.
Daí as invasões, as fofocas, as denúncias, as agressões que fluem virtualmente. Como prepará-los? como controlar o que se manifesta na surdina dos quartos, nos conluios das salas de conversação e nos labirintos subjetivos de cada um? Eis a questão. A sociedade tem que se preparar e debater com frequência e assiduidade via escola e família, essa questão.
Nunca eles foram tão prósperos na digitação, movimentam os teclados com uma agilidade impressionante. Nunca escreveram tanto, durante horas intermináveis, criando uma linguagem decodificada e propícia aos segundos do tempo, à corrida imediata, à pressa dos tititis e, numa só largada, conectam-se em várias páginas a um só tempo. O raciocínio está mais ágil, os dedos mais dançarinos e o pensamento mais veloz. Considerações que devemos levar em conta, se quisermos fazer uma análise segura e promissora.
Tem razão Pierre Levy, "a internet é a projeção de tudo o que há no espírito humano", vou mais longe, a internet somos nós. Mundos diversificados e diferentes: a geração da vivência virtual e a geração do veículo virtual. Como estamos no segundo dos mundos, a nossa liberdade se dá pelo hiato entre o locutor e o interlocutor, um espaço de silêncio, uma esfera não contínua; enquanto eles, mergulham fundo no mar da virtualidade. Mas, ambos, somos ciberculturais.
Sergio Nunes
PS: NÃO DEIXEM DE LER O PIERRE LÉVY!!!

A INTELIGÊNCIA COLETIVA
Agência RBS – O sr. diz que a Internet criou um espaço democrático, em que mais gente tem acesso à informação e maior chance de se manifestar. Mas nem todo mundo tem acesso à Internet. Isso não acabaria aumentando a distância entre pobres e ricos, por exemplo? 
Pierre Lévy – Os que têm acesso à Internet estão conectados com a inteligência coletiva, todos os conhecimentos possíveis e todas as pessoas, todos os grupos de discussão. É algo vivo e muito democrático. Uma comunicação horizontal, não como a do jornal, do rádio ou da TV, que é vertical. Quem participa do movimento da cibercultura vive num universo cada vez mais democrático. Os que não participam estão obviamente excluídos. Isso é muito inquietante. A boa notícia é que há um aumento do número de conexões. A Internet é o sistema de comunicação que se reproduziu mais rapidamente em toda a história dos sistemas de comunicação. Há 10 anos, havia menos de 1% do planeta conectado. Hoje, em certos países, na Escandinávia, 80% da população está conectada. Em certos Estados norte-americanos, já se ultrapassou 50%. 
Agência RBS – Em países pobres é bem diferente. 
Lévy – Os dois países do mundo em que o aumento de conexões é mais forte são o Brasil e a China. Você não pode ser impaciente. Já é extraordinária a rapidez com que tudo isso vem ocorrendo. Antes de a Internet chegar a todo mundo, é preciso tempo. Se você pensar que o alfabeto foi inventado há 3 mil anos e somente depois de alguns séculos a maioria da humanidade passou a ler... 
Agência RBS – O sr. acha que vivemos um momento tão importante quanto o do advento da imprensa? 
Lévy Mais importante. Quando se inventou a imprensa, o resultado mais importante foi talvez a criação da comunidade científica, graças aos livros e revistas que traziam números corretos, desenhos corretos. Com a imprensa, a humanidade pôde acumular conhecimento. Os sábios puderam se comunicar uns com os outros. O problema da memória foi resolvido. Os homens puderam se concentrar sobre a observação e a experimentação. Hoje, a participação ativa não está mais limitada a um pequeno grupo, a comunidade científica. Todas as pessoas podem participar dessa inteligência coletiva. É uma escala maior. O resultado provavelmente em uma dezena de anos será o fim das fronteiras nacionais, um governo planetário, uma nova forma de democracia, com participação mais direta. 
Agência RBS – Não haveria mais os líderes, as pessoas que comandam? 
Lévy – No futuro, todo mundo vai comandar. Vão acabar as pessoas que comandam. 
Agência RBSÉ uma utopia.
LévySim. É uma utopia. Se você houvesse dito no início do século 18 que em dois séculos haveria o sufrágio universal na maioria dos países do mundo, diriam que você estava louco. A cada salto no sistema de comunicação, na inteligência coletiva da humanidade, se tem mais liberdade. 
Agência RBS – O sr. acredita que o advento da web chega a afetar a construção do pensamento do homem contemporâneo? 
Lévy – Isso já começou. As pessoas hoje não aprendem a contar como contavam antes da calculadora. O uso que se faz da memória é completamente diferente. Temos todas as informações disponíveis na Internet. Não precisamos mais saber as coisas de cor. Os instrumentos de percepção se tornaram coletivos. Do Canadá, posso saber o que se passa em Porto Alegre. Posso olhar por tudo, pelo interior do corpo humano, imagens médicas etc. Isso transforma totalmente nossa percepção do mundo. 
Agência RBS – Isso muda a vida até de quem não tem acesso à Internet? 
Lévy – Sim. Se muda todo o funcionamento da sociedade, muda também a sociedade para aquele que não está conectado. 
Agência RBS – Como o sr. vê o que poderíamos chamar de mau uso que se faz da Internet? A pornografia infantil, por exemplo. 
Lévy – A Internet é uma espécie de projeção de tudo que há no espírito humano. No espírito humano, o sexo ocupa uma parte muito grande. É algo biológico. Se não fôssemos obcecados por sexo, não nos reproduziríamos. Temos uma certa agressividade. Se não tivéssemos, a espécie humana teria desaparecido. Essa agressividade nos serviu muito na época pré-histórica. Hoje, é preciso sublimar essa agressividade, assim como se faz com a sexualidade. Podemos sublimar a sexualidade no amor, por exemplo. Mas digamos que o instinto bruto permanece. Os comportamentos agressivos acabam se manifestando. O ciúme, os maus sentimentos que existem no espírito humano também vão aparecer na Internet. É um espaço de pensamento e comunicação em que não há censura. O que é interessante é que há menos hipocrisia.