terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ESSIENI, DIÁRIO DE VIAGEM XIV


De metrô seguimos para o Museu do Vaticano a fim de visitar a Capela Sistina. Ao entrar fomos subindo vários níveis do museu e, a cada nível apreciávamos obras de arte riquíssimas de inúmeros artistas.
A princípio entramos no átrio das estátuas etruscas, das tumbas e das heráldicas.
Perseu degolando a Medusa com seus movimentos e formas perfeitos, em mármore branco massisso. Como massissa eram todas as outras estátuas em mármore puro.
A expressão do rosto, olhar fixo, o movimento do corpo, davam os traços perfeitos do cinzelamento do artista. Duas múmias egípcias chamavam a atenção pelo milenarismo de sua conservação e pelo aspecto fúnebre que expressavam nos contornos cadavéricos.
Impressionaram - me as quatro imagens seqüenciais em bronze que figurava o ciclo de vida papal: desde o momento da eleição, durante o governo da Igreja, ao final de sua jornada e sua morte. Remeteu-me esta seqüência ao estado atual do pontificado de João Paulo II, que se encontrava de férias em Castel Gandolfo.
Após passarmos por várias galerias repletas de incontáveis obras de arte, adentramos numa galeria interminável com um teto revestido de brocados, dourados, bordados e pinturas belíssimas da escola de Raphaelo.
Tudo emergia esplendor, luxo, majestosidade e triunfo. As colunas em mármore e granito com seus detalhes em arabescos, cornijas, linhas e brocados, formavam desenhos geométricos de raríssima beleza.
Enfim chegamos à Capela Sistina, marcada pelo pincel e cinzel de Michel Ângelo em seu pleno esplendor. A criação do universo em seus vários níveis até a plenitude da salvação. A fé católica cristã no seu berço, na sua origem, na sua legitimidade apresenta o seu ápice.
Caso inusitado foi Izi dar falta de “nerina” (um cachorrinho de pelúcia, cor preta). Deduzi que havia ficado num dos janelões que dava para os belos jardins do Vaticano, aonde havíamos descansado por alguns minutos.
Izi em prantos, nos fez retornar pelo caminho que já havíamos passado. Graças a Deus conseguimos de volta “nerina” que havia sido guardada pelo vigilante que em cada ponto está presente durante todo o trajeto da visitação.
Fomos almoçar nos arredores do Vaticano, circulando pelos lugares que marcavam a presença triunfante da Igreja.
Impressionante como Roma está irremediavelmente selada pela presença dos papas que a governaram durante alguns séculos. Em cada Piazza romana, nas esquinas, nas ruas, nos parques, tudo mantém o selo do Pontífice Máximus, com grandiosas construções arquitetadas por artistas habilidosos, cuja perfeição, matematicamente conjugada, deixou para sempre o seu legado que constitui a memória da Cidade Eterna.
17/07/02

A OPOSIÇÃO


O quadro político nacional manifesta nova rearrumação partidária, consequência direta das eleições, da perda do caciquismo - o que é auspicioso - e da emergência de novas lideranças. Este movimento expressa de forma latente a nossa imaturidade política. Somos um país em maturação, naturalmente esse dinamismo nos é peculiar e necessário. Daí que as forças partidárias se fragmentam para se reorganizarem. O PT já sofreu vários revezes. É bom lembrar do PSTU e PSOL que surgiram como dissidências.
Quando se fala que a oposição se desmancha, dá a atender para os leitores desavisados ou até mesmo para o missivista, que vai desaparecer. Ledo engano. Ela assume um novo perfil em busca de uma nova ação. Sai enfraquecida, em termos, mas com potenciais para se expandir, caso saiba atrair os anseios da sociedade.
O PT soube canalizar essas necessidades sociais, porque surgiu das bases e nela se consolidou. Criou-se uma alternativa como esperança de dias melhores e isso se realizou para milhões, que passaram agora a ser caldatários dessa nova proposta de ascensão social e acesso aos bens de consumo. Proporcionou a auto-estima e determinou a dignidade. Obviamente que o PT foi ao encontro das instituições religiosas, em especial a católica através da teologia da libertação. Por isso, o lastro do PT possui uma solidez que aos outros falta.
Mantendo-se a proposta para a inclusão social e a participação na renda, sem dúvida, o PT permanecerá ainda por muitos anos no Poder. Resta saber se a conjunção de forças que o apoiam vai a reboque das suas proposições. Mesmo assim, a força do petismo que tem credibilidade que nem o mensalão foi capaz de diluir - haja vista, que o povo formou um escudo em torno de Lula, que qualquer tentativa para desestabilizar o governo, embora tenso, foi em vão. Não é à toa que um Arthur Virgílio e Tasso Jereissate foram sepultados na política e outros que bateram forte no governo Lula. E agora, temos Dilma Roussef, que está governando com determinação e dizendo claramente a que veio. Aos possíveis dissidentes, caso houver na votação do salário mínimo, restará a masmorra política e, à oposição, se for concessiva, as benesses planaltinas.
Restará à oposição, portanto, circular como satélite em torno do PT e, aos aliados, sustentação para não dispersarem-se como estilhaços.
Entretanto, é de bom aviltre que o PT mantenha-se resguardado nos seus propósitos que já apresentam certos sinais de esgarçamento. O retorno embrionário ao Movimento Popular e ações concretas  de alívio à classe Média tradicional como tímpano que ressoa os anseios populares e sociais, manterão o PT ainda por muitos anos. Caberá aos Diretórios regionais e nacionais, bem como aos Congressos partidários anuais rever a tradicional e surrada ação partidária elitista e caciquista - quando o partido volta-se para si mesmo, fechando-se em torno de políticos militantes e parlamentistas - para desembocar como caixa de ressonância dos anseios sociais e populares.
Enquadrar a base aliada através do cumprimento dos acordos fechados em torno do bem-comum, repelir qualquer tentativa de acordo escuso para fins dissolutos e dar ouvidos ao que a oposição criticamente tem a propor em benefício da sociedade.
Estas ações formam a Res-pública e conformam a democracia entre nós, sem desconsiderar a oposição que tem sem dúvida alguma muito a contribuir para o amadurecimento do país enquanto nação.

VINICIUS TORRES FREIRE
A oposição se desmancha

Individualismo rudimentar e mudança climática na política brasileira ameaçam existência de PSDB e de DEM
A AGONIA dos partidos de oposição é evidente desde 2010. Há tempos doentes de dengue programática e anorexia social, partidos como PSDB e DEM parecem agora ter se entregue à autoamputação.
Gilberto Kassab, prefeito de SP, pode causar hemorragia de um terço dos quadros do seu DEM, a caminho que está de algum outro partido, qualquer partido que lhe dê a legenda para o governo paulista em 2014 e boas relações com o petismo.
Caso se confirme a migração de Kassab, o DEM será um partido nanico, mas sem nacos de poder que alimentam os nanicos agregados ao petismo no poder.
José Serra talvez apenas ameace cortar braços e pernas de PSDB, dada a disputa que trava com Geraldo Alckmin e Aécio Neves, mas o fato mesmo de que sugira a cisão ilustra o baixo nível da discórdia tucana.
O desarranjo da oposição ficara evidente na derrota inglória de 2010, quando o PSDB fizera uma campanha desnorteada, sem programa, sem apelo ou base social e que descambava ora para a demagogia, ora populista ora direitista.
A desorientação tornou-se manifesta na conversa fiada da "refundação tucana". Aécio e Alckmin passaram a procurar um verniz partidário mais adequado aos novos tempos de hegemonia petista. Deram de falar sobre a importância de "políticas sociais", de se "aproximar" do "povo" e de sindicatos. Deram de pregar "oposição responsável" a Dilma, "cooperação" com o governo federal. Tudo isso é também um outro modo de fritar Serra, desafeto radical do petismo.
O motivo mais imediato da crise é o fato de que a coligação sudestina de PSDB-DEM tem quatro candidatos (Aécio, Alckmin, Serra e Kassab) para dois cargos em 2014 (governo paulista e presidente). Mas há mais. Kassab pensa em se bandear para um partido associado ao governo petista. Alckmin, como já se disse, é diplomático com Dilma Rousseff, e há mesmo setores do alckmismo ideológico que já se agregaram ao governismo, como Gabriel Chalita.
Há uma mudança climática na política, em parte resultado do sucesso do petismo-lulismo, do "desenvolvimentismo" e as várias derrotas ideológicas, políticas, eleitorais e morais de ideias ligadas à "modernização tucana". Tais reveses erodiram a base ideológica do tucanato e encolheram ainda mais sua base social-eleitoral.
Há os defeitos intrínsecos da oposição. O PSDB era o partido de certa elite sulista, escovada em universidades americanas, gente mais ilustrada da finança, da grande empresa e parte da universidade "modernizante" e de representantes mais "modernos" de elites regionais.
Os quadros ideológicos se foram, para ganhar a vida no mercado. A base social organizada jamais existiu. A grande finança aceita conviver com o PT, desde que não barbarizem demais o Banco Central e as contas públicas. A grande empresa foi cativada com subsídios. Os quadros políticos restantes do PSDB, sem projeto coletivo, se matam em nome de suas carreiras individuais. O DEM era um resquício de eras passadas, apenas.
Se a mudança é duradoura, não se sabe. Mas o sucesso acidental ou não do petismo ameaça explodir os partidos de oposição. Caso a agonia termine em mortes, estaremos diante da maior mudança partidária em quase um quarto de século.