domingo, 12 de dezembro de 2010

ESSIENI, O DIÁRIO DE VIAGEM V

Na estação Sta. Lúcia de Veneza chegamos às 8:25. Paolo Carlucci nos aguardava ansioso, principalmente por Denise, já fazia tempo que não se viam. Foi sem dúvida acolhedora a espera de Carlucci acenando para nós.

Fomos direto ao Porto, descendo as escadarias com as malas, até a balsa de espera pelo barco que nos levaria a outro porto.
Veneza belíssima descortinava-se maravilhosa. O casario que forrava suas bordas, datadas a partir do séc. IX dC., quando os romanos fugiram da invasão dos bárbaros, refugiando-se nas centenas de ilhas que formam os arquipélagos venezianos.
Descemos com a mala no porto e seguimos pelas ruelas estreitas e labirínticas, subindo e descendo escadas até chegarmos ao hotel Sto. Giorgio, que fica no Campo de San Maurizio. Deixamos as malas e saímos para o primeiro reconhecimento de Veneza. Ao atravessar a grande ponte de madeira da Academia, por onde circulam os turistas, demo-nos com um protesto de barqueiros, que segundo Paolo, protestavam contra o aumento de tributos que afugentaria os turistas. Um protesto politicamente correto, pois o grande beneficiado seria o turista.
Chegamos ao café, logo ao pé da ponte e apreciamos a beleza relicária de Veneza, com seus casarios revestidos de travestino e terracota, intermediados por palácios em colunatas e estátuas de mármore branco que pertenciam a famílias aristocráticas.
Após o café, seguimos pelas “callas” labirínticas, pelas Parochias, pelas ruas e pelos Sotoportegos, com a cidade acordando e o burburinho expandindo-se pouco a pouco.
Entramos na Igreja de San Rocco, séc. XV ornada com belos quadros de Tintoreto, toda trabalhada em mármore e granito, com suas colossais colunas vigorosas e uma capela ao lado direito para adoração ao Santíssimo. No esplendor do ostensório rodeado por relicários de vários santos, rodeados por navetas, pela bela coroa do Espírito Santo e por turíbulos que respiravam incensos como preces.
 Ajoelhei-me e rezei, agradecendo aquele momento tão marcante em nossas vidas. Eu e minha família e amigos, unidos e felizes.
 Adentramos na Piazza de San Marco e defrontamo-nos com uma arquitetura clássica formada por dezenas de naves, dezenas de lojas e cafés; uma seqüência de janelas com bordas árabes e milhares de pombos que vinham ciscar os grãos de milhos em nossas mãos.
Orquestras em vários pontos tocavam harmoniosamente ao compasso do violino e do piano – uma cena singular.
A basílica de San Marco emergia com plenitude e esplendor com suas cúpulas, formando três imensas abóbadas bordadas por pedras revestidas de ouro, desenhando imagens bizantinas de rara beleza. Meus olhos marejaram-se de lágrimas que se ocultavam pelas escuras lentes de meus óculos. Tudo era muito belo, muito solene, muito encantador, circulando pelas Callas de Veneza. Apreciávamos as vitrines com as máscaras carnavalescas, muito bem trabalhadas e dispostas em painés, formando mosaicos coloridos em diversos detalhes.
Entramos num Café e tomamos duas garrafas de Proseco, uma bebida achampagnada em taças cônicas, para um brinde especialíssimo.
Retornamos ao hotel e, a cada ponte por onde passávamos, os casais românticos passeavam nas gôndolas .
Fomos deitar para sair mais tarde, às 18:30, e recomeçarmos nossa jornada.
Passeamos e fomos jantar no Ristorante “Da Bruno”. Um jantar completo de mariscos, talharim, peixe, salada e proseco. Vivenciamos as Bodas de Canaã de Raphaelo que se encontrava no Museu do Louvre em Paris. Foi prazeroso o jantar na Cantina Italiana, bem como a recepção que nos foi dispensada pelo detalhe das rosas vermelhas que presenteadas foram as nossas mulheres, Rute , Izadora e Denise.
A noite já havia chegado, passamos pela Piazza de San Marco, ouvíamos as baladas dos sinos e sonatas de piano pelas Callas de Veneza, incensadas pelo aroma de charutos que esvoaçavam invisíveis pelos labirintos secretos, a sua fumaça.
07/07/02

II ENCONTRO DE FILOSOFIA DA MENTE

Realizou-se no período de 08-10 de dezembro na Universidade Federal do Pará, o II Encontro de Filosofia da Mente e Ciências da Cognição, organizado pelo Prof. Dr. Luiz Eduardo Ramos da Faculdade de Filosofia. A sua temática novíssima para nós aqui em Belém do Pará e, nova no âmbito do conhecimento filosófico e neuro-científico proporcionou um novo conhecimento acerca do que se investiga nesta área.
O embate entre a filosofia da Mente e a Ciência é permanente, entre a significância do conceito e as reações fisico-quimicas cerebrais. Uma das questões interessantes e exóticas que se postulou neste Encontro partiu da Profa. Dra. Márcia Regina Viana da Universidade Estadual Norte Fluminense sobre "Neurofisiologia e existencialismo: um diálogo possível?". A questão central discutida deu-se a partir do conceito de Liberdade em Simone de Bovoir. Seria possível uma reação fisico-química que definisse a liberdade para tomadas de posição organicamente? De certo teríamos aqui um reducionismo bio-quimico de uma faculdade singularmente arbitrária. Seria arbitrário ao sujeito decidir sobre seu destino ou seria os componentes fisico-quimicos arbitrários para decidir pelo sujeito? Ou ainda não haveria distinção entre ambos e assim cairíamos num generalismo? Enfim questões postas pela controvérsia das ideias que suscitam dúvidas e calorosos debates, eis a grande riqueza do embate filosófico no diálogo com a ciência.
Além de todos os participantes que trouxeram valiosas contribuições, destaco a Profa. Dra. Eunice Gonzalez da UNESP de Marília, "Redes neurais artificiais: alcance e limites no estudo da cognição situada e incorporada", um estudo acerca da inteligência artificial ou robótica, cuja pretensão seria a capacidade possível de transferência de sentimentos e emoções cibernéticas à máquina, uma vez que é feita pelo homem. Qual a possibilidade que o homem teria de realizar tal transferência? Vejam portanto que a temática é bastante inusitada e ousada.
Mas também tivemos, assuntos mais brandos para quebrar um pouco a sisudez do maquinário fisico-quimico das redes neurais, tipicamente antropomórficas. Desenvolvemos também abordagens antropocêntricas acerca da Mente Primigênia em Giambattista Vico com a participação do Grupo de Pesquisa Viquiano que trouxe grande contribuição na ampliação do debate e das informações delineadas. Realço o confronto estabelecido entre a Scienza Nuova e a Ciência Contemporânea na área da linguagem a partir do arcabouço que compõe a Mente Primigênia na sua constituição e maturação para o conhecimento, tendo a Imaginação como elemento primordial de alcance representacional e desencadeador da formação e ordenação do mundo.
Primou-se desse modo pela diferença nas várias abordagens apresentadas, promovendo os contrastes e controvérsias enquanto alimentadores naturais dos debates e troca de informações ocorridas. Parabéns Prof. Luiz Eduardo. Valeu!