terça-feira, 28 de dezembro de 2010

JAPERICA

 Quantas saudades! Imensas saudades de ti, amada minha. O quanto fui feliz em teu seio, o quanto viví em tuas terras, o quanto saboreei de teus frutos. Oh! amada minha, eternas são as saudades e as lembranças que volteiam sem tréguas e remoçam no tilintar da fumaça que exala café de manhãnzinha pelas telhas de cavaco, pelo alguidá no girau, pelo pote com água da cacimba, pelo forte vento na ponta do bacurí e pelas caminhadas na roça até a casa de farinha. Quantas saudades amada minha sinto forte em meu peito que lateja delirante quando penso em ti. Bela morena dos olhos gatiados feitos de argila fatiada de vermelho e barrancos altivos e sombranceiros sobre a maré esverdeante e formosa, encrespada pela maresia e ondulada no balanceio terno das coloridas canoas, cascos e batelões que enfeitam sobremaneira tua pestana azul de anil como sopro de tuíra na memória viva de tua face meiga e serena. Como és linda Japerica. Sob o teu ventre deitei-me em oração num misticismo vibrante que acendia reluzente pelas badaladas solenes do sino a boca da noite. No debulhar piedoso por entre dedos calcinados e morenos, molhadas pelas lágrimas abundantes do amigo de sempre, a rezar de forma pungente o terço no solar do Livramento. Saudades imorredouras dos que já partiram, mas ecoam sonoros alaridos no silêncio da noite forrada de estrelas. Assim permaneces entre fatos, fotos e feitos com plenitude no meu coração, desejoso de rever-te um dia em solene comoção.