quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

O embaixador americano tem toda a razão. Essas regiões distantes da capital e embrenhadas nestes rincões da selva amazônica são terras sem lei, aonde a jagunçada e pistoleiros imperam a mando de fazendeiros ignorantes e gananciosos que só querem auferir lucros em benefício próprio numa barbárie cruenta de sangue e morte. O caso Stang é emblemático desta situação que não é a única, várias Doroths estão sendo ceifadas todos os dias nesta terra sem lei. Como a Stang era missionária católica romana e americana, de certo que a repercussão do caso foi internacional e envolveu portanto não só o governo americano, quanto o Vaticano. Mas, muitos mártires anônimos tombam todos os dias sem que isso cause qualquer repercussão e são enterrados a meio palmo do chão nas encostas do latifúndio da discórdia.Sabemos disso graças as revelações inusitadas do WikiLeaks que escancarou as espionagens americana sobre os governos e o mundo, numa clara demonstração desafiadora ao império Yank que diz prezar pela liberdade de expressão em plena democracia. Este é o teste vital para o regime americano que está criando por todos os meios embaraços para Assange ser preso, numa atitude prepotente e arrogante, cujo desmascaramento soterra a política democrática americana. A liberdade de expressão tem que ser preservada quando a verdade é anunciada, deve ser coibida quando fomenta a mentira e o embuste. O que não é o caso.Duas lições devem ser anunciadas: o descaso da lei nos rincões paraenses produto da falta de política consistente, de governos incompetentes para agir e um judiciário estadual lerdo, assim como os meandros da espionagem americana para o controle e submissão dos países demonstram, a fragilidade das leis no Brasil e a fragilidade dos sigilos americanos. Para além disso, o cerco que os hackeres assestaram sobre o governo americano demonstra que a guerra não é mais com fogo, é com os botões. Mas, o mais inusitado desta ópera bufa, está no apoio de várias celebridades para pagar a fiança e a eleição pelo Times como a personalidade do ano 2010 de Assange, numa clara resposta a hipocrisia do governo americano. Enquanto o Brasil, via Pará lamentavelmente recebe zero no caso Anapú e merecidamente.

15/12/2010 - 07h00 Ex-embaixador dos EUA afirma que Pará parece o 'Velho Oeste'

PublicidadeUIRÁ MACHADODE SÃO PAULO John Danilovich, ex-embaixador dos EUA no Brasil (2004-2005), afirmou em telegramas diplomáticos que o Pará se parece "com a imagem popular do Velho Oeste": "isolado, pouco povoado" e uma terra "sem lei". A visão é expressa em relatos sobre a morte da missionária Dorothy Stang, americana naturalizada brasileira. Stang foi morta em fevereiro de 2005, aos 73 anos, alvo de seis tiros, em uma estrada de terra perto de Anapu (750 km de Belém), por denunciar a grilagem e o desmatamento ilegal. Cinco pessoas foram condenadas pelo crime.A Embaixada dos EUA no Brasil produziu nove relatórios sobre o caso nos três meses seguintes ao assassinato, e pelo menos outros seis foram elaborados até 2008. Os telegramas foram obtidos pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch), que teve acesso a milhares de despachos. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado aos documentos. Nos relatos do ex-embaixador, há elogios ao governo federal, cujo empenho foi considerado "vigoroso" sob "qualquer ponto de vista". Mas Danilovich manifesta preocupação com a Justiça do Pará e sugere que a federalização do crime seria a melhor solução.