domingo, 27 de março de 2011

SÃO CARLOS DO BRASIL


Ontem, por ocasião da festividade de São Carlos do Brasil, na Paróquia de Santo Expedito, aqui em Belém, no Mangueirão, concelebramos juntamente com alguns fiéis para registrar este dia tão importante para toda a ICAB. 
Durante a homilia ressaltei três aspectos importantes e determinantes que expressaram com veemência, a bravura de Dom Carlos Duarte Costa o grande timoneiro das mudanças e dos avanços na eclesialidade católica, nos idos de 1945 e antes.
Foi importante descrever o perfil de nosso santo fundador para que os nossos fiéis pudessem introjetar esta lembrança, memorizando a sua história, para poderem disseminá-la entre os outros.
Os três aspectos foram: a missa em vernáculo, o fim do celibato e a confissão comunitária. Elementos esses já preconizados por Dom Carlos na sua última visita "ad limina" com o Papa, portanto, ainda, como bispo romano. Obviamente não atendido em seus pedidos, fora de certo repreendido por ousar tanto. Com sua determinação em combater estes elementos na ICAR, fora isolado do seio da Igreja, tendo como seu único protetor o cardeal Dom Sebastião Leme. Assim que faleceu o cardeal, foi convidado a se retirar da diocese de Botucatu no interior de São Paulo. Pois, naquele momento, se encontrava em franco conflito com o Vaticano e ao governo Vargas, durante a Segunda Guerra Mundial, sendo radicalmente anti-facista e anti-nazista.
Retomando os três aspectos considerados, discorreremos sobre eles na perspectiva de São Carlos, a fim de que possamos ter um mínimo de clareza acerca de um dos aspectos de sua biografia.
Quanto ao celibato, sabemos que não se trata de uma questão evangélica, mas estritamente disciplinar.
Na verdade, o celibato é uma tradição proveniente dos costumes e culturas pagãs, voltado para o serviço no templo dos deuses. Havia necessidade de que, os que prestavam culto e cuidavam do templo fossem castas e castos. Assim herdou, também, o judaísmo essa prática que, depois foi legada ao cristianismo, pois os primeiríssimos cristãos eram judeus. Maria Santíssima, quando solteira, serviu ao templo e como tal, era virgem. Desse modo a prática do celibato foi introduzida no cristianismo como elemento de purificação e oblação a Deus e, entre os primeiros cristãos haviam vários grupos como os montanhistas e outros que se homiziavam nos eremitérios para viverem a virtude da virgindade. Temos aqui o aspecto cultural dessa prática. Tanto que entre os primeiros cristãos, presbíteros, diáconos, diaconizas e bispos, o matrimonio era uma prática comum, casavam-se e mantinham suas famílias. Com o advento dos concílios de Elvira no ano 300 dC começou a promoção do celibato entre os padres e, no concílio de Trento 1545-63, o celibato foi definido como regra, embora o Oriente mantivesse o matrimonio entre os padres por questões de cultura e, tolerado pelo Vaticano por questões políticas. Portanto, nas primeiras eras do cristianismo e até ao meado do século XVI, o celibato não era obrigatório. Entretanto, há uma outra variável que se manifestou no contexto desta situação. Não apenas de ordem cultural, mas também de ordem material, o celibato foi imposto ao clero. A Igreja não poderia perder o seu patrimônio que foi conquistado pelas benesses dos impérios que dominaram por vários séculos o poder eclesial. Desse modo a Igreja, também, exerceu o poder Temporal na época dos sumos pontífices que governavam Roma e, para não ver seu patrimônio dilapidado pelas famílias do clero, garantiu-se assim, a centralização do poder econômico nas mãos dos eclesiásticos, prelados, monastérios e ordens religiosas.
São Carlos, foi contra a obrigatoriedade do celibato e, propugnou a sua abolição, recebendo em suas hostes, bispos e padres casados, por considerar que a obrigação celibatária fere a natureza humana. Embora o mesmo Dom Carlos sempre manteve-se celibatário por opção pessoal.
Quanto a missa em vernáculo, isto é, aquela celebrada na língua de um determinado povo, em especial no Brasil, celebrada em português, a ICAB foi o primeiro rito católico nacional a celebrar a missa no vernáculo. A ICAR celebrava em latim, com o sacerdote de costas para o povo e, este, sem participar da missa rezavam em particular, em geral debulhando o terço. Somente pelos idos de 1960 com o Vaticano II aprovou-se esta proposta, já introduzida pela ICAB, sendo, portanto, nós, os pioneiros na missa em vernáculo. O padre voltou-se para o povo, e o povo com o padre participou da celebração.
Finalmente, a confissão auricular foi abolida por São Carlos e introduzida a confissão comunitária. Entendia que os pecados são confessados a Deus e cabe ao sacerdote lhe assegurar a absolvição. Tornou-se, portanto, exceção, a confissão auricular. Durante o Ato Penitencial, o sacerdote já concede aos fiéis a absolvição dos pecados, estando assim livres para participar sem culpa e sem pecado do mistério eucarístico da nossa fé.
"Com Cristo e em Cristo no caminho do carlismo".