sexta-feira, 19 de novembro de 2010

OS DENTES DO PMDB



O balcão e bocão de negócios do PMDB, a camarilha corrosiva do poder no Brasil, mostra suas garras. Os patifes continuam como sempre ávidos por sangue de influências, numa ação vampiresca de levantar drácula do túmulo. Embora, ainda bem votados pela canalhice brasileira que prolifera aos borbotões, não possuem minimamente o escrúpulo de serem cortês, afinal, alçaram o poder nunca dantes visto, com a vice-presidência da República. Era de crer que o seu titular mor Michel Temer fosse suficientemente polido para administrar tanta sede ao pote, mas foi justamente o primeiro a sair do túmulo para atacar as vítimas, ou a vítima.
Não é a toa que o PMDB carrega em sua biografia a marca dos títeres mais contumazes na corrupção e, que infelizmente e disso se aproveitam, ninguém, nem qualquer partido pode governar sem ele, até quando não sabemos, mas é preciso escorraçar publicamente com o exorcismo do voto e a depuração crítica via educação essa horda de meliantes que se encastelaram no poder.


VINICIUS TORRES FREIRE 


A orelha sangrenta do PMDB


É possível ao menos conter a avacalhação da barganha de ministérios com a "base aliada" e seus oportunismos





É VERDADE que uma pessoa pode passar por idiota ao fazer uma pergunta dessas, mas até para não se render de vez à avacalhação político-programática a gente tem de inquirir: o governo de transição não vai exigir programa ou qualificação de quem vai assumir os ministérios loteados para a "base aliada", para o "blocão" ou, em suma, para o PMDB e similares menores?
É também verdade que o entendimento comum e correto a respeito do assunto é aquele muito bem estilizado pelo cartunista Scabini, na página A2 de ontem da Folha. Na caricatura, uma Dilma Rousseff boquiaberta ouve de um assessor as exigências da "base aliada", demandas que vinham acompanhadas mafiosamente de uma orelha sangrando. Mas precisamos aceitar sem mais a chantagem?
Em parte, nós jornalistas temos culpa nesse cartório, pois condescendemos com tais comportamentos "coisa nossa" e tratamos apenas de relatar as "negociações do resgate", entregues a um cinismo terminal, ainda que por vezes até inconsciente. Mas poderia ser uma promessa de final de ano da presidente eleita, e do jornalismo exigir que a "base aliada" passe a apresentar programas de governo.
É óbvio que o deboche não vem de agora; que os governantes têm pouco espaço de manobra, dado o nosso "presidencialismo de coalizão" com o atraso. Fernando Henrique Cardoso, com seu pragmatismo bem pensado, notou logo o problema e tomou a decisão cristalina de reservar uma parte do ministério para um projeto de governo. O resto foi mais ou menos "seja o que Deus quiser", limitado por projetos "transversais" de governo, como privatizações e agências reguladoras.

FHC reservou para si as pastas econômicas, comunicações, saúde e educação. O mais foi quase todo "peemedebizado" a sangue-frio, pois sem isso haveria caos no Congresso. Lula não teve tal previdência e, no seu primeiro mandato, a emergência do petismo de resultados misturada a uma coalizão parlamentar fraca acabou dando no escândalo do mensalão.

(FSP, 19/11/10)

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