Shalôm é uma palavra hebraica, cujo
sentido nos remete ao sentido do vocábulo “paz”, pax ou “єірդνη”. Sua raiz
etimológica provém da raiz sumérica silim
e da raiz acádica shalamu, que diz “estar
são, incólume”. Essa expressão realiza em nós o sentimento de tranquilidade, de
bem estar, do que está sadio, saudável e, a uma sociedade, o que está em ordem,
vivendo em felicidade, porque impregnada da benção de Deus. Deste modo o povo
de Deus ansiava sempre pela paz como nos demonstra a sagrada escritura e tal
como hoje, embora os contextos se diferenciem, o sentimento é o mesmo, ainda
mais vasto e complexo, pois a vida contemporânea exige mais disposição, demanda
mais tempo para os afazeres e nos proporciona mais estresse. Por isso, mais que
nunca, somos sedentos de paz para mantermos a harmonia, o equilíbrio e, sobretudo
a temperança ante situações tão adversas e difíceis que vivemos no dia a dia.
Nestas circunstâncias a paz é um sentimento virtuoso de difícil vivência, pela
própria condição que a vida moderna nos impõe, como podemos observar em casa,
muitas vezes pode nos faltar a harmonia por diversos motivos; no trânsito, nas
porfias, na falta de educação, nos congestionamentos, nos ônibus superlotados,
nos metrôs apressados e nas correrias cotidianas; na escola, com os excessos de
trabalhos e informações; nas igrejas, por desavenças fortuitas e falta de
caridade; nas instituições pela falta de transparência e justiça, enfim pelas vicissitudes
que nos cercam diariamente como motivos de superação de nossos limites e
fraquezas, quando percebemos a nossa impotência e a nossa fragilidade diante do
mundo, quando então, clamamos ao Senhor Pai das misericórdias, como último
recurso ante o desamparo que subtrai nossa esperança e nossa temperança. Por muito pouco
perdemos a paz, por muito pouco ela desonera-se e, juntamente com ela a
justiça, a paciência, a tranquilidade, a temperança. O quanto é difícil viver
em paz, pois requer compor com a alteridade, requer equilíbrio com o adverso,
requer serenidade com o controverso e, isso não é fácil, principalmente quando
temos a tradição cartesiana como referência de juízo, entre aquilo que é
verdadeiro e aquilo que é falso. Como poderíamos conquistar esta paz tão
desejada? Senão mediante a Graça divina que na sua providência nos propicia dar
ordem às coisas, para que assim tenhamos funcionalidade e capacidade de diálogo
e superação de desavenças conflitos e contradições.
Para isso Deus nos dispôs mediante seu Paráclito, para que sob seu
influxo sobre todos os homens independentemente de credo ou religião,
pudéssemos nos relacionar equitativamente e equilibradamente. Manter este ponto
é a mais difícil tarefa, o mais ingente esforço. Como alcançar então a Paz?
Mediante a Graça, não exatamente a fé, pois assim, o ateu não disporia da paz
para manter a temperança, ou o pagão para manter o equilíbrio existencial. A
diferença está no privilégio daqueles que souberam atender ao chamado divino
através de sua Palavra Sagrada como testemunho, sinal visível da misericórdia e
da mansidão de Deus em nós.
Assim a paz estabelecida pelo Cristo se organiza na vida (Rom 8,6; Pdr
3,14), pois proporciona a sanidade espiritual e corporal, pois a paz em Cristo
é a nossa paz em pessoa, a paz que nos eleva até Deus e nos consola, e dos
homens entre si que nos unifica mediante a ação do Espírito Santo (Ef 2,18; Lc
19,38; At 10,36).
Vivenciar a paz é o nosso grande desafio e sem dúvida nossa maior
conquista, porque assim conquistamos a Deus no desafio premente de viver
continuamente a paz e desafiamos a divisão para vivermos em unidade.
Pe. Sergio Nunes, ICAB
Email: runiz@uol.com.br
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