quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A INTOLERÂNCIA PAULISTANA



Casos suficientemente emblemáticos, que nos apresentam o nível de preconceito do estado mais rico do país. Riqueza, aliás, à custa de nordestinos famélicos em busca de melhoria fora dos sertões e das secas. Por sinal, é expressivo o número de nordestinos em São Paulo. Estão em todos os setores, em todos os cantos, em todas as ruas: operários, motoristas de ônibus e cobradores, diaristas de apartamentos, motoristas de táxis, garçons, garis, balconistas, zeladores, bagulheiros e marreteiros. Esse povo infesta a cidade de São Paulo, dando-lhe um perfil completamente diferenciado. Na praça da Sé formam rodas para apresentarem seus serviços medicamentosos, instrumentais e prestidigitadoriais, quando não, com suas cantorias de cordel e churrasquinho de gato defumado dão ânimo a selva de pedras. Enfim, são os sustentadores dos serviços que fazem esta cidade respirar. São os fâmulos servis dos pater familia paulistano, os lambaios da elite branca tão bem definido pelo branco elitista Claudio Lembo. O que seria de São Paulo se não fosse o nordestino? Provavelmente não existiria, ou não seria o que é hoje, com esta multidão de braços maltratados e calcinados pelo labor diário nas fábricas, no trânsito, nas faxinas dos apartamentos, nos bares e restaurantes, bem como na cozinha para os apaniguados, na limpeza de bueiros, valas e calçadas, praças e paradas coletivas e no metrô. Enfim estes fazem São Paulo se mover, pois carregam o impulso do seu vigor nos seus braços, mas levam também, o desprezo e a opressão da desigualdade racial que os separa dos euro-brasilianos de colarinho branco e de sotaque empostado do paulistano esbranquiçado nos guetos dos shopping centeres e das mordomias seletas que a paulista oferece. Criou-se de certo um embate intestino que jaz no subterrâneo das relações necessárias e na interpessoalidade útil que a ambos uni inevitavelmente, o caso Mayara é revelador. O resultado eleitoral é o sinal visível dessa dissenção social. Serra perdeu em seu território pela avalanche dos fâmulos nordestinos que prestigiaram seu conterrâneo, o irmão da mesma base e do mesmo horizonte.
Como se não bastasse, os meninos irrequietos, patricinhos e bem nutridos da classe média paulistana, aprontam contra rapazes que caminhavam transeuntemente na Paulista. A agressão, fruto de uma educação efêmera, própria de filhinhos de papai que acham que podem tudo, que nada os acometerá, investem contra grupos de tranquilos caminhantes porque consideram que sejam homossexuais. E se fossem? Qual o problema? Mas uma referência preconceituosa de meninos aborrecentes que deveriam levar umas boas palmadas para que a ordem fosse estabelecida e evitassem esta barbárie regressada, fruto de uma educação incipiente e devassa, sem critério e sem imposição de limites.
A ordenação das ações humanas é um elemento imprescindível para a formação do caráter e da personalidade dos infantes. Pela ordenação se estabelece os valores de preservação e de boa convivência entre todos. Cabe a intelligenzia paulistana debater estas questões e influenciar na mentalidade dos seus próceres, afim de evitar um confronto intestino que se formou entre paulistas e nordestinos que deixou sem dúvida, algumas marcas indeléveis e invisíveis, bem como, cultuar a boa convivência para a tolerância peculiar a nossa brasilidade, parte de nosso acervo mais rico, a nossa multiculturalidade.


Justiça manda internar garotos agressores

Pela decisão, os quatro adolescentes suspeitos de ataques na avenida Paulista irão para a Fundação Casa


Ministério Público solicitou a medida após analisar imagens de vídeo que contrariam a versão dos acusados 



DE SÃO PAULO 
DO "AGORA"

A Justiça decretou ontem a internação dos quatro menores de idade acusados de agredir pedestres na avenida Paulista na semana passada.
Dois ataques, com três vítimas, ocorreram por volta das 6h30 de domingo, 14. Um terceiro, às 3h do mesmo dia, deixou mais uma vítima.
Os acusados disseram que se envolveram em uma briga após serem provocados. Para a polícia, os ataques tiveram motivação homofóbica.


FERNANDO DE BARROS E SILVA

O "caso Mayara"

SÃO PAULO - "Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!". A mensagem é muito repulsiva e precisava ser combatida. Sobre isso, não paira nenhuma dúvida. Há, porém, várias maneiras de condenar um ato.
Incomoda-me, de um lado, que a primeira reação seja a de ir à Justiça para punir a jovem. Não porque a tipificação do crime que se atribui à estudante Mayara Petruso seja tecnicamente complicada. Incomoda-me, antes, nossa inclinação quase automática para transformar um problema social num caso de polícia. Isso evidencia como ainda nos falta cultura política democrática.


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