quarta-feira, 9 de março de 2011

A FORMAÇÃO FILOSÓFICA


Antes de mais, nós não formamos filósofos, formamos sim, bacharéis e licenciados em filosofia na UFPa, que poderão vir a ser estudiosos da filosofia, como bem dizia Benedito Nunes. Os filósofos foram aqueles que instituíram sistemas e doutrinas de pensamento, como por ex. Platão que criou a Doutrina das Idéias. Aristóteles criou o sistema Metafísico e a Lógica Formal, para ficar nos antigos. Estes são os filósofos.
Aqueles que porventura estudam os demais filósofos, são os investigadores, os pesquisadores, os estudiosos da filosofia, ou se preferir seus comentadores. São mestres e doutores que discorrem sobre determinados enfoques filosóficos e exercem um olhar crítico sobre estes, para daí extrair novas formas e novas interpretações acerca daquilo que se está investigando, cujo produto será o comentário crítico daquele determinado assunto. Isto, é fazer conhecimento, produzi-lo e confrontá-lo nas suas diversas dimensões: seja conceitual, gnosiológica, epistêmica, científica, cultural, política, estética e moral e/ou ética.
Portanto, o trabalho do estudioso da filosofia é solitário, em termos, claro, posto que ele dialoga com vários pensadores simultaneamente através de suas obras, confrontando-as, comparando-as, relacionando-as através de pontos de contato, das suas diferenças, das suas semelhanças, das suas superações, das suas críticas, num crivo constante de arrumações, desarrumações e rearrumações conceituais, que visam sobremaneira questionar, duvidar e esclarecer determinadas situações: éticas, políticas, tecnológicas, científicas, artísticas e religiosas que se manifestam no seio da sociedade. Além disso, pode exercer a docência no ensino médio e superior, cuja função maior é gerar, impulsionar e formar consciências críticas para o desempenho de sua condição humana, seja na família, no trabalho, na sociedade, nas relações interpessoais e principalmente consigo mesmo. Por isso o estudioso da filosofia, ama a leitura e a escrita que são seus aliados permanentes e promissores, precipuamente dedica-se ao ensino como mestre aos seus discípulos, não apenas para informar, mas principalmente para moldar e mudar consciências no livre exercício do magistério, não por indução, mas por reflexão.
A inovação é um mecanismo peculiar ao exercício da filosofia, uma vez que se desenvolve o conhecimento e se exerce o magistério. Cada justificação teórica, cada confrontação conceitual, cada paralelo estabelecido, cada inferência realizada, formam os movimentos recorrentes e permanentes no exercício do fazer filosófico, por isso, sempre original e criativo. Um texto produzido sobre determinado tema, uma aula dada sobre o mesmo tema, nunca será a mesma no tempo e no espaço, mesmo que o tema seja o trabalhado. Porque cada apanhado, cada discorrência, cada clarificação, cada pontuação será sempre um diferencial subjetivo e informativo a cada instante. Por isso o resultado do conhecimento filosófico sempre será inusitado e original.
O futuro profissional da filosofia tem um campo promissor de trabalho e atuação, tanto no campo do ensino, quanto das artes, da cultura e da consultoria. No ensino, com o avanço da filosofia no ensino médio, necessitamos cada vez mais de profissionais qualificados para exercê-lo, é um campo aberto para conquistarmos ainda mais; nas artes e cultura como críticos competentes para discernir com juízos balizantes e clarificantes a massa que subjaz na concepção de cada elemento formador do artístico e do cultural; na consultoria, ainda muito reduzido em nosso país, como facilitador de provocações e dúvidas, ou seja de problematizações para se buscar a melhor saída, a melhor solução, o melhor arranjo de uma proposição em qualquer esfera do trabalho e atuação profissional. Este é um campo ainda por conquistar.
O profissional da filosofia deveria ser dedicado, disciplinado, empenhado e sobretudo competente naquilo que faz com paixão, denodo e zelo. Como deve ser em qualquer profissão.

Prof. Dr. Sergio Nunes

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