sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O ABORTO E A RELIGIÃO


O ABORTO E A VIDA


Tema extremamente polêmico e apaixonado. De um lado àqueles que defendem incondicionalmente e, de outro àqueles que defendem por mero capricho. Aonde estaria o equilíbrio, o jugo de um justo juízo? Seara pantanosa e de difícil acesso. Não basta bravatas, nem vociferantes agressões. A temperança é o melhor julgamento e a mais equilibrada das condições.
Ora, vejamos. Como podemos ceifar a vida de inocentes, indefesos e sem qualquer meio para sobreviver? Esta situação, permite-nos chegar a alguma conclusão serena e equitativa? Não! Ela parece ser intransponível. Mesmo que as circunstâncias de tal geração deu-se na mais adversa e difícil contingência, com todas as consequências dela provinda.
Uma outra questão se impõe. Quando se trata de crianças congenitamente deficientes e que podem se tornar um estorvo para o resto da vida. Seria motivo de extinção dessa vida? Não quero cair num jogo de sentimentalismos, mas de julgar moral e eticamente aquilo que diz respeito a vida humana. Ou deixaríamos ao livre arbítrio de qualquer um decidir o que fazer.
Deveríamos legislar sobre a consciência alheia? Naquilo que diz respeito ao seu próprio corpo e a sua situação emocional, psíquica e social? Como buscarmos equacionar um problema tão complexo?
Creio verdadeiramente que a educação é fundamental nesta decisão. Por isso, caberia às famílias e aos credos religiosos e a sociedade em geral, orientar e resguardar aquilo que lhe compete na preservação da vida. Ao fiel, caberia seguir tal doutrina, já que dela faz parte. Bem como caberia ao médico recusar-se por questão de fé e consciência realizar tal procedimento, sem que qualquer penalidade lhe fosse imputada, caso fosse legalmente reconhecido o ato abortivo.
Enfim, creio que o livre arbítrio enquanto ato de livre decisão e reta razão seria, sem dúvida, a melhor solução. Aos que praticarem este vil ato, ficaria a mercê de Deus, o Senhor da Vida, o seu julgamento. Pois, só Ele é capaz de julgar, pois somente Ele possui a causa sui da criação da vida. Ao homem cabe o julgamento moral de tal atitude.
No entanto, quando este ato requer a extinção da vida do outro, isto é da mãe. Como reagiríamos? Do mesmo modo caberá a mãe decidir por sua vida ou pela vida do filho. Neste caso, deverá prevalecer a Ação do Espírito Santo, tanto para os crentes, quanto para os não crentes em relação ao livre arbítrio. Porque tal situação limite, nos propicia a ação intransponível e agônica de uma decisão entre a vida e a morte.
Viver é sempre a mais benigna e caritativa saída. É a condição natural da vida.


Eu fiz três abortos
ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO


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Tive formação que cumpriu o rito das famílias católicas no Brasil; por contingências da vida, com três parceiras, me vi impelido a encarar abortos
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"O búzio e a pérola: aperfeiçoa-te na arte de escutar, só quem ouviu o rio pode ouvir o mar"
LEÃO DE FORMOSA

Neste momento em que a discussão sobre o aborto entra na campanha pelas portas dos fundos, da hipocrisia, da indigência intelectual e da falta de compromisso com a realidade brasileira, penso ser importante que nós, a dita sociedade formadora de opinião -sim, nós existimos-, nos manifestemos.
Sou católico e tive uma formação que cumpriu o rito das famílias católicas no Brasil. Por contingências da vida, em três diferentes oportunidades, com três parceiras distintas, há longo tempo, eu me vi impelido a encarar um aborto.
Em nenhuma das três situações eu queria que o aborto fosse feito, mas respeitei, com dor e resignação, a decisão da mulher.
Agora, vejo que o aborto domina a campanha presidencial.
A pergunta errada, covarde, maldosa e bandida é: "Você é a favor do aborto?". Ora, ninguém, em sã consciência, é a favor do aborto, e não é isso o que está em discussão, salvo para os marqueteiros e os fanáticos religiosos.
O que deve ser motivo de reflexão é a realidade estampada corajosamente pelos grandes veículos de comunicação: cerca de 1,1 milhão de abortos clandestinos são feitos todo ano no Brasil; a cada dois dias, uma mulher é morta ao fazer aborto clandestino; pelos dados do SUS, o que faz presumir que o número seja muito maior, são 200 mortes por ano.
Isso sem contar as que morrem Brasil afora sem nem sequer virarem estatística. Passaram pela rede pública no ano passado, para fazer curetagem, 184 mil mulheres que abortaram clandestinamente e tiveram complicações; em 12 anos, o SUS fez mais de 3 milhões de curetagens no Brasil.
Se os dois candidatos, que honram o Brasil com seus currículos, admitissem em conjunto e ao mesmo tempo essa tese, estariam tirando esta discussão do obscurantismo e projetando um pouco de luz nas trevas que caem e tornam opacas as vidas de tantos brasileiros. Homens e mulheres.
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ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o Kakay, é advogado criminalista. Foi secretário do Conselho de Direitos da Pessoa Humana (governo Sarney).




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