terça-feira, 23 de novembro de 2010

WOOD ALLEN



De certo, um dos poucos cineastas que vive intensamente e visceralmente a arte copiando a vida, bem como a vida copiando a arte via psicanálise, é Wood Allen. O cinema sempre foi seu divã predileto e sua vida o inferno entre o id e os demais egos, numa luta permanente com o instinto de morte. Sabemos do caso da filha adotiva que se tornou sua mulher, seria um distúrbio de electra ou a cobiça de tânatus? No cinema o alter-ego é o personagem sempre constante protagonizando suas crises e surtos existenciais. Faz de Freud sua referência idólatra que se manifesta nos diálogos subjetivos, longos, intermináveis e chatos para o deleite do expectador. Consegue transmutar a psicanálise em catarse delirante e ficção com ressaibos de cientificidade agonizante. Por isso, vive sempre delirando para fugir da morte e soterra-se no egocentrismo diluviano que inunda sua vida paralela e simultaneamente confronta-se entre o ser e o não ser da sua psicose, no embate constante entre o consciente e o inconsciente, este ser adivinhado pelos devaneios da enunciação ou pelos cortes gráficos das projeções a varejo no leito da tela. Confira.

Tristeza velhaca


Por que filma, ainda, Woody Allen? “Para continuar pegando a garota no final do filme”, veio a resposta espirituosa
aos jornalistas que indagavam seu comparecimento às telas na razão de um filme por ano, durante o encontro no Festival de Cannes, em maio. Se certa mecanicidade se expõe no resultado dos seus recentes trabalhos, talvez seja o caso de atribuir maior inventividade às palavras do realizador do que a suas histórias filmadas. Tese Que Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, em cartaz dia 26, faz por corroborar. Um novo-velho Allen recicla a ideia com tempero melancólico.

Os personagens são, bem ao gosto do cineasta, casais em crise de diferentes gerações, na Londres que Allen se habituou a filmar e em Nova York. O par mais experiente é formado por Anthony Hopkins e Gemma Jones. Quando o marido a abandona por uma jovem, ela vai se consolar na vidente e na casa da filha (Naomi Watts), esta atraída por um galerista charmoso (Antonio Banderas), situação que agrava a relação com o marido (Josh Brolin), escritor frustrado interessado na bela vizinha (Freida Pinto). Há mais desejos e traições a fechar o círculo nesta história que foi vista em Cannes como uma comédia triste.
“É a minha perspectiva da vida, uma experiência sempre obscura, dura, dolorosa, um pesadelo. A única maneira
de sobreviver é se iludir e mentir, pois do contrário a vida se torna insuportável.” E como essa noção no filme também corresponde ao tema da morte, foi inevitável saber de Allen sua postura. “Continuo sendo intensamente contra a morte. Aconselho que a evitem, se puderem. É o que venho fazendo.”

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