terça-feira, 25 de outubro de 2011


A catequese, como meio de instrução para a fé e a cidadania, requer um bom planejamento cujo cronograma contemple objetivamente os passos e as metas que devem ser encaminhados para uma boa formação, cujo resultado seja eficaz. Para isso um programa acadêmico é imprescindível. Pretendemos formar catequistas que de fato assumam na vida sua condição enquanto tal. Que se manifeste nas suas atitudes e no seu comportamento o caráter formador, sem o qual, não teremos agentes comprometidos e perseverantes.
Na catequese a fé se amadurece por conta de novos valores cognoscentes que são imformações básicas que vão sedimentar o subjetivismo de cada um, criar raízes e consolidar a personalidade religiosa. Este processo se prolonga por toda a vida e por isso necessita de retroalimentação permanente para a renovação e a motivação úteis a vida de compromisso eclesial, portanto uma conversão contínua de nossa mentalidade em vias de nossa total adesão aos preceitos evangélicos que não pode ser artificial, mas fundamentado e justificado em nossas vidas. Convertendo-nos a nós mesmos teremos a capacidade de converter o outro pela instrução, pela formação e pelo ensino. Assim, o papel da catequese é educar o cristão para que entenda com mais profundidade, isto é, com base teórica e metodológica  mediante a fé, para assumir com determinação a sua função na sociedade, em especial na sua comunidade.
Dese modo podemos dizer que a catequese seria a continuação do ensino e da ação de Jesus, enquanto proposta de vida, pois é um convite que se faz compromisso com Deus e consequentemente com os irmãos, pois o maior compromisso do cristão e, em especial do catequista é anunciar a Boa Nova através do ensino e do testemunho, portanto precisamos estar sempre e continuamente nos empenhando nas lições e nos conteúdos pertinenetes para nossa formação contínua, pois a catequese não se esgota na sala de aula, mas muito além se desdobra na vida pessoal e comunitária de cada um: seja na família, na vizinhança, no trabalho, na rua, nos encontros, nas lutas, enfim em toda e qualquer manifestação social e política.
A catequese portanto é um ministério, porque é serviço e mais, serviço voluntário e despojado, muitas vezes com o sacrifício do próprio catequista que o faz por amor, por dedicação, por vocação, sendo portadores do Reino em vista da justiça, da fraternidade e da paz, porque são chamados por Deus para esta nobre missão, exercendo a 'diaconia da fé', como bem diz São Paulo: "Como poderão invocar aquele no qual não acreditaram? E como poderão ouvir, se não houver quem não anuncie? Como poderão anunciar se ninguém foi enviado?" (Rm 10,14-15).
O compromisso e o testemunho de vida são as expressões mais profundas da aceitação e adesão do catequista ao chamado de Deus, pois os sinais de mudança que se operam na comunidade são as provas cabais da ação do Paráclito sobre a vida desta e de nossas vidas e, para isso, o catequista deve estar atento aos sinais dos tempos, para que possa reconhcê-los e colocar-se despojadamente aos interesses divinos que o Evangelho nos comunica. A partilha da fé entre e inter-eclesial confirma a nossa adesão pastoral, consolida a nossa fé e nos impulsiona para determinados, seguirmos avante em nossa missão. O grupo catequético é essencialmente partilha, pois alimenta-se deste convívio fraterno entre si na troca permanente de experiências e amizade no Cristo, referência unificadora e integradora.
Na comunidade o catequista é referência de prestígio e atrai sobre si confiança e esperança, por ser portador da Mensagem Evangélica, é também líder que anuncia a Esperança e denuncia as injustiças. A ação social do catequista é imprescindivelmente política, pois está atento às necessidades da comunidade e contribui como cidadão para a solução e encaminhamentos das pendências do seu bairro, da sua passagem, da sua rua, da sua cidade. A linha de separação entre a postura profética do catequista e a sua militância política é tênue, quase imperceptível, para isso cabe ao catequista estar vigilante para não confundir o testemunho evangélico com ações partidárias.
Enquanto o Evangelho é sinal de congregação entre irmãos, o partido é sinal de divisão, daí o grande desafio de discernir com propriedade estas duas esferas da vida social.
Ao catequista lhe é dada a tarefa de ensinar para educar na fé, mas este ensino só pode frutificar mediante o testemunho que requer envolvimento na vida comunitária, daí caberá ao catequista apoiar todos os movimentos populares de justiça e bem-comum e recusar tudo aquilo que for fruto da trama sorrateira e da dissolubilidade com a coisa pública. Nas campanhas eletivas, quando os ânimos estão acirrados caberá ao catequista a parcimônia, a temperança e a serenidade, porque em todos os partidos encontramos cristãos dignos e generosos; caberá defender o que estiver de acordo com os preceitos evangélicos no âmbito da justiça e da paz.
Ser catequista é portanto um grande desafio, porque ser cristão não é definitivamente fácil, requer a fé intensificada pela vontade e o testemunho como sinal evidente dessa fé entre os irmãos, na sociedade e nas relações humanas.
Pe. Sergio Nunes, ICAB


terça-feira, 6 de setembro de 2011

A PAZ



Shalôm é uma palavra hebraica, cujo sentido nos remete ao sentido do vocábulo “paz”, pax ou “єірդνη”. Sua raiz etimológica provém da raiz sumérica silim e da raiz acádica shalamu, que diz “estar são, incólume”. Essa expressão realiza em nós o sentimento de tranquilidade, de bem estar, do que está sadio, saudável e, a uma sociedade, o que está em ordem, vivendo em felicidade, porque impregnada da benção de Deus. Deste modo o povo de Deus ansiava sempre pela paz como nos demonstra a sagrada escritura e tal como hoje, embora os contextos se diferenciem, o sentimento é o mesmo, ainda mais vasto e complexo, pois a vida contemporânea exige mais disposição, demanda mais tempo para os afazeres e nos proporciona mais estresse. Por isso, mais que nunca, somos sedentos de paz para mantermos a harmonia, o equilíbrio e, sobretudo a temperança ante situações tão adversas e difíceis que vivemos no dia a dia. Nestas circunstâncias a paz é um sentimento virtuoso de difícil vivência, pela própria condição que a vida moderna nos impõe, como podemos observar em casa, muitas vezes pode nos faltar a harmonia por diversos motivos; no trânsito, nas porfias, na falta de educação, nos congestionamentos, nos ônibus superlotados, nos metrôs apressados e nas correrias cotidianas; na escola, com os excessos de trabalhos e informações; nas igrejas, por desavenças fortuitas e falta de caridade; nas instituições pela falta de transparência e justiça, enfim pelas vicissitudes que nos cercam diariamente como motivos de superação de nossos limites e fraquezas, quando percebemos a nossa impotência e a nossa fragilidade diante do mundo, quando então, clamamos ao Senhor Pai das misericórdias, como último recurso ante o desamparo que subtrai nossa esperança e nossa temperança. Por muito pouco perdemos a paz, por muito pouco ela desonera-se e, juntamente com ela a justiça, a paciência, a tranquilidade, a temperança. O quanto é difícil viver em paz, pois requer compor com a alteridade, requer equilíbrio com o adverso, requer serenidade com o controverso e, isso não é fácil, principalmente quando temos a tradição cartesiana como referência de juízo, entre aquilo que é verdadeiro e aquilo que é falso. Como poderíamos conquistar esta paz tão desejada? Senão mediante a Graça divina que na sua providência nos propicia dar ordem às coisas, para que assim tenhamos funcionalidade e capacidade de diálogo e superação de desavenças conflitos e contradições.
Para isso Deus nos dispôs mediante seu Paráclito, para que sob seu influxo sobre todos os homens independentemente de credo ou religião, pudéssemos nos relacionar equitativamente e equilibradamente. Manter este ponto é a mais difícil tarefa, o mais ingente esforço. Como alcançar então a Paz? Mediante a Graça, não exatamente a fé, pois assim, o ateu não disporia da paz para manter a temperança, ou o pagão para manter o equilíbrio existencial. A diferença está no privilégio daqueles que souberam atender ao chamado divino através de sua Palavra Sagrada como testemunho, sinal visível da misericórdia e da mansidão de Deus em nós.
Assim a paz estabelecida pelo Cristo se organiza na vida (Rom 8,6; Pdr 3,14), pois proporciona a sanidade espiritual e corporal, pois a paz em Cristo é a nossa paz em pessoa, a paz que nos eleva até Deus e nos consola, e dos homens entre si que nos unifica mediante a ação do Espírito Santo (Ef 2,18; Lc 19,38; At 10,36).
Vivenciar a paz é o nosso grande desafio e sem dúvida nossa maior conquista, porque assim conquistamos a Deus no desafio premente de viver continuamente a paz e desafiamos a divisão para vivermos em unidade.
Pe. Sergio Nunes, ICAB





quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A ORAÇÃO


A Oração provém do latim oratio, orationis, quer dizer, súplica, reza, discurso. A súplica nos deixa humilíssimos e indefesos, despojados de qualquer malícia, a reza nos torna íntimos e confidentes através das palavras expressas ou meditadas, desse modo somos levados pelo Paráclito a esta abertura com Deus, momento de intensa aproximação, confissão e petições na transcendência espiritual que invade o tempo que se eterniza e o espaço que se esvai na dimensão que a fé proporciona.
A Oração é uma tradição antiquíssima, desde as eras primigênias. A religião foi a primeira instituição humana, os homens ofertavam aos deuses, primícias e sacrifícios como oferta ou proteção. Até hoje, mantemos esta dimensão espiritual que nos conduz ao mistério divino.
Na tradição do cristianismo, a sagrada Escritura é fertilíssima nos episódios neo-testamentários, nos quais o Cristo nos ensinou e testemunhou o ato indivisível da Oração na nossa vida pessoal e eclesial. Inúmeras vezes, disse Ele: orai, rogai, pedí em meu nome, insistindo sempre na prática da oração que deve ser humilde, penitente e vigilante, a fim de que possamos perseverar confiantes na bondade do Pai. Do mesmo modo, os apóstolos em suas cartas nos transmitiram este zêlo e cultivo pela Oração com assiduidade e insistência enquanto função santificadora, regeneradora e transformadora para si e para todos.
O que somos e o que temos, nos é dado pela ação da providência mediante as faculdades que nos assistem e nos proporcionam de agir, tentar, conquistar e assumir o que somos e o que fazemos. Essa transcendência e aproximação com o Criador fortalece mediante a Oração o nosso espírito, as nossas determinações e os nossos objetivos.
O Cristo Jesus vincula-se naturalmente na dimensão oracionante, pois por meio D'Ele nos tornamos herdeiros do Reino, assim incorporando em si toda a humanidade, alcançamos a salvação, que não é palavra vaga e desprovida de sentido, mas o alcance definitivo legado pela irmã morte que nos alcança inexorável e nos superdimensiona para além da esfera terrena, aonde a plenitude oraciante se manifesta totalizante.
Podemos assim estreitar nossa relação com o divino, pois participamos da sua Graça pela ação do Espírito Santo na mímese transcendente que nos confere ser parte de sua dimensão espiritual. Neste sentido, pessoal e comunitário realizamos a composição místico-corporal do Cristo, sendo um só em Deus. "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles" (Mt, 18,20).
A unidade da Oração, portanto, tem seu fundamento e extensão nesta participação do Unigênito para com o Pai e do Pai para conosco mediante a ação do Paráclito, que é partícipe do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho formam um Só. Este mesmo "Espírito vem em socorro a nossa fraqueza" e "intercede em nosso favor com gemidos inefáveis" (Rom 8,26) e com o Espírito do Filho, Ele infunde em nós "o espírito de adoção filial, no qual clamamos Abba, Pai" (Rom 8,15). Esta filiação nos enlaça inexoravelmente na plena intimidade com Deus e proporciona o louvor como cântico de adoração, gratidão e oferta que elevamos ao pronunciar contritos e fervorosos, "Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome...".
Ao nos renovarmos e fortalecermos pela Oração, nos tornamos firmes e perseverantes em nossa fé e vivificantes no testemunho da Palavra de Deus, para anunciar com alegria e prazer a bem-aventurança da qual somos devedores e partícipes, pois ao Pai pertencemos e a Ele retornaremos.

Pe. Sergio Nunes, ICAB

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

SER CRISTÃO


Mais que nunca, estamos debatendo continuamente através das mídias, das redes sociais, dos blogs, das instituições, das escolas e das conversas informais, a mudança do homem, mormente do brasileiro, da sociedade brasileira, da cultura brasileira.
Como mudar este homem? Como alterar seu paradigma ético, sem que seja subtraída sua liberdade de escolha? Como mudar este homem para que se torne verdadeiramente um homem novo?
A mensagem de Jesus Cristo tem esse alvo, a convivência social e familiar está coligada inexoravelmente, pois ela fala exatamente sobre esse homem inserido na sua atividade social e pessoal, pois requer a assimilação da Mensagem Evangélica como pressuposto da ação ética no meio social.
Precisamos considerar que a Mensagem Evangélica nos apresenta um Cristo destemido, radical, contestador e revolucionário. Entretanto sua Mensagem não denota um Cristo político partidário, mas um Cristo cuja mensagem é política, porque visa a mudança de estruturas, de hábitos, de comportamento, portanto uma mudança na eticidade de toda pessoa humana. A Mensagem que Ele nos apresenta é o anúncio do Reino de Deus, que a tudo transmuda. Livre de todo o mal e na busca incessante do bem comum. Portanto, não pode ser um programa de ação estritamente político-partidário, mas de efetiva transformação cultural, de valores éticos e de consciência crítica.
Ao questionar o sistema político-religioso de sua época, o Cristo voltava-se para o homem, e neste sentido sua Mensagem tem uma dimensão política que visa sobretudo a mudança radical de todo homem e do homem todo. Desse modo as implicações políticas de sua Mensagem são radicalmente transformadoras, porque subtrai o velho homem por meio de uma nova forma de ver o mundo, uma nova cosmovisão que tem como base o Reino, que nada mais é que superação contínua de nossas dificuldades e misérias em vista do Bem, do respeito, da dignidade, da caridade e da justiça.
A denúncia das situações opressivas, seja na família quanto na sociedade, é a condição da vocação profética inerente ao caráter cristão. Somos cristãos de fato quando nos incomodamos com as injustiças, com a indignidade, com o desrespeito entre pessoas e com a falta de caridade que exclui, separa e discrimina.
Por isso, a práxis cristã não se reduz à esfera apolítica, privada ou eclesial. Mas muito mais que isso abrange o mundo e a sociedade, as relações de trabalho e interação social, as relações familiares e pessoais. Assim, portanto, a vivência cristã não está isenta de conflitos, pois revela e emerge de contextos diversos e controversos na busca de apaziguamentos e equacionamentos contraditórios, porque visa, sobretudo, o Bem comum.
As conseqüências desta assunção cristã, de sua prática autêntica, fruto da convicção que a fé nos consolida e permite realizar, é a capacidade de responsabilizar-nos pela mudança que se faz premente na sociedade. É a capacidade de ler os sinais que se expressam nas ações humanas e exigem mudanças. É a capacidade de nos indignar diante das injustiças.
No Brasil de hoje, clamamos por honestidade e transparência na coisa pública. Chegamos ao fundo do poço nesse caldeirão de dissolubilidade, emergimos de uma barbárie do individualismo e egoísmo exacerbado, aonde abunda a desmesura da ganância e do furto alheio sobre os bens públicos por todos produzidos.
Não podemos simplesmente clamar por justiça, paz e honestidade na coisa pública, se não tivermos o endosso da prática cristã que nos permite agir corretamente em função do outro através do anúncio e da denúncia que nos foi confiada pelo próprio Cristo.
Ser cristão define nossa prática como autêntico testemunho de fé que nos foi dado pelo Cristo e que vivenciamos na ação benéfica do Paráclito que nos move para o testemunho de sua Palavra, na vivificação de sua Mensagem como sinal visível do prenúncio do seu Reino entre nós. Cabe, portanto, aos cristãos de todos os matizes, de todos os ritos e de todas as igrejas, o compromisso de mudança radical em si mesmo para alcançar o outro como elemento de interrelação subjetiva e assim chegar às instituições eclesiais e civis.
Ser cristão é anunciar a liberdade que alcançamos movidos pela fé em Jesus Cristo através da prática de sua doutrina. É dispor da caridade visando o bem do outro para transformar as normas e práticas viciosas em virtude libertadora.
Pe. Sergio Nunes, ICAB

quarta-feira, 13 de julho de 2011

WOOD ALLEN, O ENGENHOSO

MEIA NOITE EM PARIS

Estupefato, esta sensação me trouxe o reconhecimento a Wood Allen no seu novíssimo filme "
Meia noite em Paris". Belíssimo, muito bem acabado, filmografia requintada em tons pastéis e luz de ambar soletrando as pontes milenares molhadas pela chuva. Cena imperdível, como imperdível o retorno ao tempo, uma catarse fantástica que atiça o engenho e compõe-se em metáforas históricas que o passado regressado comporta.
Wood Allen, revela-se certamente um cineasta, superando a fase discursiva-psicanalítica dos diálogos chatos intermináveis. Supera-se ao fazer para criar mediante a Imaginação fantástica e a paixão intensa. "Meia noite em Paris" revela o ato criador, para além da razão, descambando por inteiro na robusta paixão da Imaginação, retirando de forma difuza, numa ida e vinda constante, espiralarmente intensa, porque integrante de um passado que retorna ao presente e se projeta no futuro. O sonho confunde-se com a realidade e dispensa a objetividade num profundo mergulho inteiramente transosmótico. O escritor, sua escrita, os personagens que assumem os sentimentos, as atitudes e a reviravolta de valores condensados, agora estilhaçados por sombras, matizes e perplexidades, num só feixe que se espalha entre a realidade, o sonho e a vida, num movimento espiralantemente concentrado numa difuzão, cuja vivacidade entranha-se na emoção e no sentimento do personagem.
A contextualização do texto funde-se com a vida e soletra nos sentimentos as emoções de amor, relação e delírio que o escritor enquanto autor vive intensamente entre a escrita e a vida. Revisita Henminguey, Emmile Zola, Salvador Dalli, Faukner, Buñuel e tantos outros personagens que o fazem reinventar-se no enredo e expor na simetria das letras a pulsão constante de sua criatura nas entranhas mesma de seu criador. A vida confunde-se com a arte, a arte faz da vida a superação, os desencontros e os reeencontros entre remotos tempos que se dilaceram e se iluminam entre a clareza sensível da mente original e a criação fantástica. Wood Allen soube muito bem apreender esta superação. Não mais o protagonista dos rosários intermináveis e cansativos, mas o cineasta perfeito e completo que soube genialmente fazer do imaginário a matéria substancial da criação e de lado, deixou as ordenações discursivas e artificiais que adessam, mas não condensam, que profusam, mas não revelam, que intelectualizam, mas não originalizam.
Realidade e fantasia se encontram extraordinariamente, ou como diria meu saudoso mestre Benedito Nunes: "a realidade é tão fantástica, quanto a fantasia é real". 

sábado, 25 de junho de 2011

Folha de S.Paulo - Raciocínio evoluiu por causa de discussões - 25/06/2011


Folha de S.Paulo - Raciocínio evoluiu por causa de discussões - 25/06/2011

Nem a bonbordo, muito menos a estibordo. Nem o racionalismo, nem o viés de confirmação. O raciocínio desenvolveu-se por necessidade e utilidade, nada além disso. Esses dois fatores permitiu a mente primigênia - e é aqui que está, a grande contribuição decisiva de Vico - desenvolver a sua maturidade para o raciocínio, promovendo mediante o senso comum, o engenho e o livre arbítrio, estabelecer relações entre as coisas semelhantes e diferentes entre si, agregando elementos múltiplos e diversos, unindo-os pela verossimilhança. A linguagem, e aqui, encontramos a base essencial desse processo, permitiu na sua expressividade formar esta unidade do diverso e do semelhante, proporcionando uma certa identidade entre os diferentes. A metáfora, elemento primário por natureza, gerado pelo corpo e tranferida às coisas. Primeiro elo de união entre os separados, permitindo neste processo o amadurecimento, não linear, mas difuso e transverso do racicínio, para se compor numa rede combinada pela trama e urdidura que apresentam fissuras, lacunas e vieses entre si, manifestando os pontos e as distâncias que unem os elementos representativos evocados pelos signos rudimentares e sensitivos através da Imaginação criadora. Assim, a mente primigênia criou na e pela poesia, fonte originária resultante da ação providentina, que a tudo colhe e dispõe, recolhe e conjuga.

Raciocínio evoluiu por causa de discussões
Estudo contraria ideia de que a razão se desenvolveu para achar a verdade
Teoria de cientistas franceses explicaria porque raciocínio das pessoas é cheio de inconsistências e vieses
HÉLIO SCHWARTSMANARTICULISTA DA FOLHA
Num artigo impactante, que vira do avesso alguns dos pressupostos da filosofia e da psicologia evolucionista, os pesquisadores franceses Hugo Mercier (Universidade da Pensilvânia) e Dan Sperber (Instituto Jean Nicod) sustentam que a razão humana evoluiu, não para aumentar nosso conhecimento, mas para nos fazer triunfar em debates.Desde alguns gregos, mas especialmente com René Descartes (1596-1650), consolidou-se a ideia de que a razão é um instrumento pessoal para nos aproximar da verdade e tomar as melhores decisões possíveis. "Penso, logo existo" é a divisa que celebrizou o pensador francês.Se esse esquema é exato, como explicar que o pensamento humano erre tanto? Como espécie, fracassamos nos mais elementares testes de lógica, não conseguimos compreender noções básicas de estatística e nascemos com uma série de vieses cognitivos que conspiram contra abordagens racionais.A situação não melhora quando quando abandonamos o reino das abstrações para entrar no terreno do interesse pessoal. Vários estudos têm mostrado que a maioria das pessoas comete verdadeiros desatinos lógico-financeiros ao administrar seus fundos de pensão.Mercier e Sperber afirmam que é possível explicar esse e outros paradoxos se deixarmos de lado a noção clássica para adotar o que chamam de teoria argumentativa. Apresentam uma convincente massa de estudos e evidências em favor de sua tese.A ideia básica é que a capacidade de raciocinar é um fenômeno social e não individual, cujo objetivo é persuadir nossos semelhantes e fazer com que sejamos cautelosos quando outros tentam nos convencer de algo. SOLUÇÕES A teoria, dizem os autores, não só faz sentido evolutivo como ainda resolve uma série de problemas que há muito desafiavam a psicologia.O mais importante deles é o chamado viés de confirmação, que pode ser definido como "buscar ou interpretar evidências de maneira parcial, para acomodar crenças, expectativas ou teorias preexistentes". O fenômeno está na base daquela mania irritante de políticos de só responder o que lhes interessa.O viés de confirmação é ainda uma das razões de persistência no erro, mesmo quando ele nos prejudica.Temos dificuldade para processar informações que contrariam nossas convicções. Em suas versões extremas, ele produz pseudociências, fé em religiões e sistemas políticos e também teorias da conspiração.Sob o modelo clássico, o viés de confirmação é uma falha de raciocínio mais ou menos inexplicável.Mas, se a razão foi selecionada para nos fazer vencer em debates, então faz sentido que eu busque apenas provas em favor da minha tese, e não contra ela.Adotada a lógica da produção de argumentos, o que era erro se torna um dos pontos fortes da teoria. FENÔMENO SOCIAL O modelo tem, evidentemente, implicações fortes. A mais evidente delas é que a razão só funciona bem como fenômeno social. Se pensarmos sozinhos, vamos muito provavelmente chafurdar cada vez mais fundo em nossas próprias intuições.Mas, se a utilizarmos no contexto de discussões, aumentam bastante as chances de, como grupo, nos dar bem. Ainda que nem sempre, por vezes as pessoas se deixam convencer por evidências.Trabalhos mostram que, quando submetidas a situações nas quais é preciso chegar a uma resposta correta (testes matemáticos ou conceituais), pessoas atuando sozinhas se saem mal, acertando em torno de 10% das respostas (Evans, 1989).Quando têm de solucionar os mesmos problemas em grupo, o índice de acerto vai para 80%. É o chamado efeito do bônus de assembleia.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A SEDUÇÃO DO CÉREBRO


"3.11 ...O método de projeção é pensar o sentido da proposição.
3.12 O sinal por meio do que exprimimos o pensamento, chamo de sinal proposicional. E a proposição é o sinal proposicional em sua relação projetiva com o mundo".

Temos aqui, duas proposições mostrativas retiradas do Tractatus Logico Philosophicus de Wittgenstein, um dos precursores da concepção cibernética juntamente com Frege e Russell. O pensamento não como ente subjetivo e psíquico, mas como ente objetivo, um método lógico de articulação entre signos mediante a sintaxe subjacente a esse mecanismo ou engrenagem que permite com que os signos se conectem formando elos de uma corrente para que assim possa projetar o mundo como figuração e desse modo descrevê-lo correspondentemente aos fatos que lhe são afigurados.
Ora esse mecanismo lógico-sintático subjacente à linguagem permite através de uma multiplicidade combinatória enquanto processo mecanicamente operacional mediante um cálculo matemático, permitir a articulação dos elementos sígnicos entre si para formar assim um encadeamento entre eles a fim de formar uma rede de transmissão capaz de projetar a realidade, pois assim haveria uma identidade entre a realidade e a linguagem que permitiria então, que ambas pudessem se encaixar ou conectar necessariamente, tal qual funciona, a rede cibernética dos computadores ao projetar imagens na sua tela.
A leitura ou interpretação de Hawking parece ser justamente esta. O cérebro reduzido, tão somente a um mecanismo operacionalmente lógico que permita, portanto, pensar.
Esse equívoco é bem peculiar aqueles que justamente enrodilham-se na redução lógico-atomicista da linguagem, mais especificamente da linguagem científica. Para isso, bastaria fazer como Frege na sua Ideografia, reduzir as proposições em notações lógicas e assim suprimiríamos as ambiguidades próprias da linguagem vulgar ou ordinária, aquela da qual somos utentes ou usuários. E o cérebro poderia ser reduzido a uma Forma Geral Proposicional do tipo lógico-simbólico ou notacional que de forma absoluta, eterna e essencial é capaz de gerar tudo o que existe no mundo. Só não é capaz de gerar o que está fora do mundo, isto é, do mundo lógico (wirklichkeit). Nesse caso, a ética, a estética e a mística estariam fora desse espaço. Assim sendo, não poderiam ser elementos de conhecimento científico. Então não poderiam incidir sobre eles valores de verdade. Portanto, seriam contra-sensos. Eis a questão de Hawking, homiziou-se nos escaninhos de seu cérebro e perdeu o sentido da vida, fazendo desta uma corrente algorítimica, típico dos hd's, ou moldem ou ainda pen-drive, capaz de armazenar, de calcular, de projetar, sem sair do lugar. Mera coincidência ou, a vida que imita a arte, ou a arte que imita a vida. Tanto faz, porque faz algum sentido.

Stephen Hawking: “vida após a morte é um conto de fadas”

Enviado por luisnassif, qua, 18/05/2011 - 18:00
Autor: Adriano S. Ribeiro
Para físico inglês, cérebro humano é como um computador que, quando se quebra, simplesmente para de funcionar
O famoso físico teórico inglês Stephen Hawking diz não haver nenhum espaço para a noção de paraíso em sua visão do cosmos.
Em uma entrevista publicada na segunda-feira (16) no jornal The Guardian, o cientista de 69 anos diz que o cérebro humano é como um computador que para de funcionar quando seus componentes falham. Ao jornal, ele disse: “Não existe nenhum paraíso e ou vida após a morte para computadores quebrados; isso é um conto de fadas para pessoas com medo do escuro”.
Em “O grande projeto: Novas respostas para as questões definitivas da vida”, seu último livro. Lançado no ano passado, Hawking já havia escrito que não haveria a necessidade de invocar um grande criador para explicar a existência do Universo.
O físico está confinado a uma cadeira de rodas por conta da esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada quando tinha 21 anos. Mas a doença faz com que ele aproveite mais a vida: “ Tenho vivido com a perspectiva de uma morte precoce pelos últimos 49 anos. Não tenho pressa de morrer. Existe muita coisa que quero fazer antes.”

LINGUÍSTAS DE PLANTÃO! SENTIDO!


A despeito do que diz Marcos Bagno em Polêmica ou ignorância, em tese, sua análise está de acordo com as pesquisas desenvolvidas em linguística, especificamente em Pragmática. Entretanto, dentre tantos falares vulgares, há de se referenciar e reverenciar, o normativo, que prima pela logicidade articulatória da língua e que por necessidade formal, etimológica e acadêmica devem ser princípios regulatórios. Não significa é verdade, que o linguajar deformatório ou diferenciado do normativo, tenha que ser extinto, pois fruto do analfabetismo ingente que conforma tanta gente neste Brasil brasileiríssimo. O que não se deve é sobrepor-se a norma com outra norma insipiente, cujo generalismo nos levará a uma babel protuguesante, nunca dantes visto, como proposta de linguístas permissivos e sem escrúpulos correspondentes à sintaxe lógica subjacente que promove essencialmente a promiscuidade extravagante na língua decente. Entrementes, a celeuma, ora consignada, restará como vitória encimesmada um amontoado de signos ou palavras predicadas e derivadas como montouro de lixo nas sucatas musicais que proliferam ensurrecedoramente nos tímpanos delicados, ou ainda fiel depositário macabro de frases escorreitas e difuzas, tão confuzas e abstruzas, que faz qualquer leitor obnobilar-se com exaustão nos olhos e quimeras adjacentes. Os linguístas de plantão, não podem e não devem surrupiar a língua, pela avalanche ingênua de descobertas ou investigações fenomênicas que são necessárias nos tubos de ensaio laboratoriais como variáveis fortuitas ou intervenientes para compreensão mais aguçada de eventos sígnicos em semiológicos círculos de lupas sedentas por inovações meramente surpreendentes ou supressoras de uma identidade normalizante. Precisamos sim é suprimir de uma vez para sempre a escrita perversa das ignorâncias maledicentes, resultantes do descaso desidioso do estado e governantes no descuido educacional de nossa gente.

LIVRO DIDÁTICO
Polêmica ou ignorância?
Por Marcos Bagno em 17/5/2011
Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua. Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).
Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas, senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.
Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas "classes populares" poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas "classes populares", esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar e o de seus aprendizes não é feio, nem errado, nem tosco; é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudo-especialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.
Defender uma não significa combater a outra
Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantado para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações, no mínimo patéticas. A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e o branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.
Darwin nunca disse, em lugar algum de seus escritos, que "o homem vem do macaco". Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso, que precisava de um lema distorcido, como "o homem vem do macaco", para empreender sua campanha obscurantista que permanece em voga até hoje (inclusive, no discurso da candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).
Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.
Defensores da "língua certa"
Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer "isso é para mim tomar?" porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma "isso é para eu tomar?" porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas, por ainda servir de arame farpado entre os que falam "certo" e os que falam "errado", é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la.
Também. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assisti ao filme; que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros), quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).
O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta "língua certa", no exato momento em que a defendem, empregarem regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente. Pois no sábado (14/5), assistindo ao Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: "Como é que fica então as concordâncias?" Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: "E as concordâncias, como é que ficam então?

terça-feira, 3 de maio de 2011

A EROTIZAÇÃO DO SUBLIME


Custou-me entender o sentimento e a sensação de satisfação, felicidade e plenitude que sinto de forma mais intensa e avassaladora desde que recebí a ordem sacerdotal. Concessão especial e dileta àqueles que se unem por natureza espiritual ao sacerdócio do Cristo na sucessão apostólica.
O sacerdócio trouxe-me uma áurea de erotização subjacente a minha espiritualidade e fortemente presente no meu organismo, na minha tensão corporal que se esvai e aquece numa compulsão eroticizante pelo prazer deslumbrante e profícuo do sublime e sagrado ao prático, enquanto morada e expressão do ser como é na sua plena e autêntica reta intenção. 
Não é fácil discorrer sobre esse estado místico e espiritual numa esfera corporal e sensitiva, como se as duas formassem apenas uma, cujo discernimento racional não dá conta de sua explicitação. Por isso recorrí ao velho Freud na tentativa de obter alguns elementos conceituais que pudessem me fornecer linhas de clarividência compreensiva na tentativa de uma articulação promissora que dissesse de fato com toda a obscuridade que lhe guarnece o sentimento constante que se expressa nessa fantástica satisfação realizada.
Certamente, que a infância é um dos corredores retornativos pela lembrança da satisfação ingênua e desprovida de qualquer interesse, íntegra na sua emergência e pura na sua manifestação sem arreios conceituais e sem interesses subjetivos, assim há um reconhecimento gratificante daquilo que é familiar, porque sempre vinculado ao sentimento de prazer, por uma calma sensação de conforto que se tem quando a partir de um encontro misterioso proporcionativo de uma alegria singular e peculiar àqueles que habitam a esfera do sagrado numa identidade inusitada que se retroalimenta corpo-espiritualmente. A infância , cujo sentimento de prazer, erotiza-se mediante o corpo numa busca incessante de delícias constantes de nutrição, que fortalece e desenvolve, robustece e gera os desejos que se travestem de imagens oníricas e se transmutam no prazer que satisfaz e nos proporciona a alegria e felicidade, nos faz plenos e realizados na autenticidade incondicional da aceitação totalizante.
Não se trata portanto, de uma experiência racionalizante, mas muito mais que isso de uma experiência místico-corporal, numa apreensão corpórea que proporciona significados na extensão de suas necessidades, utilidades e satisfações. É uma áurea de brilho e luz interior que ilumina e acompanha o sentir e o conhecer num sabor de ordem estética como acorde musical que nos proporciona um impacto plangente que ressoa ingente sem mensuração e sem definição. É o próprio corpo na sua criação e recriação, poeticamente extensiva a vivência na vida do mundo nas paixões arrebatadoras e profundas umbilicalmente tecida, como fonte primordial do prazer eroticizado na sua dimensão mais recôndita e obscura, são reações súbitas que nos invadem sem compromisso e sem receio.
Tentar racionalizar estes signos mediante argumentações verdadeiras, é perder de vista a real solicitude prenhe de alegria e de entrega a beatitude divina que nos faz santos no dia a dia, quando enfrentamos as adversidades e com elas submergimos para superarmos as nossas misérias e fúrias de um mar revolto para a serenidade despojada, tranquila e calma de um sono dos justos.
Este é o ser sacerdotal que na sua plenitude sinto, quando na cerimonia da consagração eucarística espalha-se vivificante para o mundo da vida. 

A Perereca da Vizinha: Tucanato em chamas: Couto perde espaço no governo ...

A Perereca da Vizinha: Tucanato em chamas: Couto perde espaço no governo ...: "A substituição de Sérgio Duboc por Maria do Céu Alencar indica claramente que o senador tucano Mário Couto perdeu o comando do Detran. Qu..."

segunda-feira, 25 de abril de 2011

PÁSCOA PARA QUÊ ?

Intensa esta semana que precedeu e culminou com a Páscoa. Designado como celebrante das cerimônias da Semana Santa pelo nosso bispo de Palmas Dom José da Silva da ICAB, presidí com entusiasmo e satisfação a liturgia. Sempre me preparando com zelo mediante os estudos litúrgicos próprios do dia, bem como através das orações, de certo modo resgatadas, como a de São Tomás de Aquino e "Eis-me aqui Senhor", a fim de entrar com o espírito contrito e piedoso para celebrar santamente a liturgia rica e significativa.
Sempre solícito, clamava ao Deus da Messe que me purificasse a fim de poder celebrar convictamente e reta intenção todos os momentos pelos quais Ele passou, sofreu e ressuscitou.
Por ocasião da Benção do fogo e da Benção da água, assistido pelo bispo, contemplei e realizei a missão sacerdotal que me foi confiada. Saimos das trevas para a luz, extirpamos o homem mau e perverso para nos redimir pelo fogo e nos limpar pela água, revestidos do homem novo no novo homem, de Cristo ressurgido do sacrifício sangrento e doloroso da cruz.
Somos assim levados a nos livrar de todo o mal que por ventura possa prevalecer entre nós. Sejam as rugas fraternas e familiares, as discórdias, o ressentimento, a trama insidiosa e o ultraje obsceno e rancoroso. Cristo nos ensina e nos testemunha esta superação para alcançarmos a retidão de nossas atitudes e comportamento, a fim de, revestidos do novo homem, possamos nos tornar um homem novo.
Assumindo de fato os princípios que o cristianismo nos legou de Paz, Concórdia e União entre todos, para que tenhamos consigo a Paz que tanto almejamos. Difícil equação existencial para dirimirmos as nossas quizílias e as nossas discórdias, pois somos facilmente levados pelo envenenamento de nossas paixões malévolas, de nossas más intenções para alcançarmos o engrandecimento e o acolhimento despojado pelo outro.
Cristo Ressuscitado nos ensina exatamente isso, superarmos nossas misérias para nos tornar benaventurantes, dignos do perdão e fortalecidos na fé pela purificação catártica de nossos sentimentos, emoções e intenções insidiosos. E assim purgardos de nossas faltas, ousemos como desafio, testemunharmos a nossa fé no Cristo Ressurecto, que veio para nos redimir agora e sempre. Feliz e abençoada Páscoa!

terça-feira, 19 de abril de 2011

A PAZ


Finalizando a Quaresma e iniciando a Semana Santa para nos introduzirmos na Páscoa, expressamos durante esta semana significativos sinais místicos contidos nos Evangelhos e que realçam, indubitavelmente, a nossa condição tão humana, na humanidade de Cristo.
No domingo de Ramos, humildemente adentrou a cidade de Jerusalém num jumento, o símbolo do despojamento e da carência, do sofrimento e do árduo trabalho, do sacrifício e da dor que reveste-se de grandiosidade porque remete-se ao esplendor da majestade divina que expressa a condição mais rudimentar da natureza humana, a virtude da humildade. Condição esta, cujo sentimento, é de facílima aceitação, mas de dificílimo entendimento e vivência para nós míseros humanos.
Na humildade encontramos a abertura serena e temperante de acolhimento do outro, propício a reconciliação, vivemos a compreensão sem mágoas e sem ressentimentos na busca incessante de escutar, encontrar e abraçar numa empatia incondicional propiciada apenas pelo espírito terno e despojado, mediante a Graça, cujo influxo se dá necessariamente pela fé no Sumo Bem.
Esta humildade, Jesus nos apresentou na sua entrada "triunfal" em Jerusalém para demonstrar que alí estava o Filho de Deus, o nobre da linhagem de Davi que entrar na cidade prometida pelo Deus da Abraão, Isac e Jacó, o Deus Emanuel, Aquele que está conosco. Entra em cortejo sob os brados de "Hosana ao Filho de Davi!". Ecos de ovação majestosa, porque superior às misérias humanas, porque sublime em louvor ao Deus da vida, porque tão simples num gesto de infinita misericórdia: "Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância".
Esta humildade serena e temperante que nos propicia a abertura necessária para vivermos em consonância com os preceitos evangélicos, na transferência inevitável da normatização de nossa conduta enquanto vivência da Palavra Divina. Seguir estas Palavras, este é o maior de nossos desafios, porque decaídos pelo pecado original, somos demasiadamente bárbaros, mesquinhos, egoístas e maldosos, em qualquer esfera de nossa vida, seja pública ou privada. Somos vil e sinistros com nossos sentimentos e intenções. Tentar a superação dessas misérias, somente pela conversão interior, que é o apelo maior que o Cristo nos apresenta e nos convida, a fim, de assim, semearmos a Paz, a Concórdia e a Conciliação.
Nesta superação expressamos a superioridade de nossa vontade em vista do Bem Comum, que nos torna capazes de trilhar com retidão, com justiça e esperança na caridade que nos faz definitivamente filhos de Deus.
Ousamos neste tempo de Reflexão sobre as nossas vidas, as nossas atitudes e o nosso comportamento, nos questionar, a partir de um profundo exame de consciência, sobre as nossas misérias humanas para superarmos nossas dificuldades e nossas faltas com o firme propósito de estarmos solícitos ao apelo do Cristo no seu gesto humilde, cuja humildade buscamos incessantemente para alcançarmos a bem-aventurança da Paz: "A Paz esteja convosco!". Esta é a saudação predicada pela humildade que engrandece e dignifica todo homem. 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O FRACASSO DO PSDB


De certo, o ato falho de FHC ao estigmatizar o Povão, confere indubitavelmente o ranço elitista e burguês, típico dos que governam com desprezo aos menos favorecidos e portanto, jamais conseguiriam levar a cabo um programa de erradicação da miséria, além do divorcio intransponível que o colarinho branco do PSDB selou entre o partido e o povão: movimento popular, sindical, estudantil e eclesial. O PSDB como a maioria dos partidos brasileiros existem artificialmente, não possuem história, nem lastro social. A sua história é tão somente uma redoma que se encerra em si mesmo.
Quanto a resposta rasteira de Lula, isso é irrelevante, o que importa que é eficaz porque se identifica com os anseios populares e, Lula melhor que ninguém sabe disso. O sapo barbudo tornou-se, a inteligência política-popular, que os ressabiados intelectuais nunca imaginaram.
Quanto a nova classe emergente, que me desculpe o articulista, mas gostaria de saber com base em que "a classe emergente que não se identifica com o PT (quase ao contrário)". Baseia-se por acaso em alguma pesquisa? Qual? Que metodologia foi aplicada? Mas parece-me que não. No entanto, pelo que percebo e convivo, seja nas feiras, nas ruas, na periferia, é justamente o contrário. Daí a vitória consagradora do PT. O parlamento que o diga. Neste sentido discordamos da conclusão.
Enquanto isso, o PSDB fica patinando perdido sem saber o que fazer diante dos fracassos e dos rachas congênitos. E pretende-se oposição apenas de garganta, sem levar em conta uma agenda mínima de realização para demonstrar a que veio, e mais, apela para a classe média na propaganda televisiva, criticar "os atrasos" nas obras para a Copa e, isso não é rasteiro? De blá blá blá estamos cheio. É preciso demonstrar que pode fazer melhor e bem feito. Só assim pode ter credibilidade, apesar da história partidária incipiente. Espero que não se torne um cabide avulso como o DEM, O novo PDB e o velho vampiresco PMDB. Disto já estamos fartos.

FERNANDO DE BARROS E SILVA
FHC e a direita nova
SÃO PAULO - Ato falho, gafe, deslize, apenas um detalhe -seja o que for, o uso infeliz da palavra "povão" no artigo mais famoso do que lido de Fernando Henrique Cardoso reforça, sim, o estigma de que tucano é meio alérgico a pobre.
Lula, espertalhão, percebeu a deixa e já tratou de esfregar na cara do antecessor a palavra pela qual seu texto será lembrado: "Agora tem um presidente que diz que não precisa ficar atrás do povão, esquecer o povão. Sinceramente, não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão".
Crítica rasteira, sem dúvida. Mas a culpa, no fim das contas, cabe a FHC, que fez uma intervenção política, por mais elaborada que seja, e não um "paper" sociológico a ser discutido entre seus pares. Interessantíssimo como análise, o texto de FHC é politicamente desastrado.
Reduzido a seu cerne, o artigo reconhece uma impotência e vislumbra uma brecha para o PSDB.
A impotência: o governo petista cooptou sindicatos e movimentos sociais e dispõe de mecanismos para conceder benesses às massas mais carentes. Contra esse poder, a palavra da oposição pouco pode.
A brecha: há, no país, uma grande classe média emergente, com demandas novas de consumo e cultura, que não se identifica automaticamente com o PT (quase o contrário) e com a qual o PSDB precisa criar canais efetivos de diálogo.
Que partido seria esse, capaz de falar aos anseios dos novos consumidores, integrados à pauta historicamente vitoriosa do individualismo possessivo? FHC não chega a explicitar esse passo, mas o corolário do que ele diz parece evidente: para sobreviver, o PSDB precisa caminhar em direção à direita.
Em termos da política norte-americana, seria como se FHC dissesse o seguinte aos tucanos: o PSDB perdeu, por circunstâncias históricas, a condição de ser o Partido Democrata no Brasil; se não perceber o que está acontecendo na sociedade, também perderá logo a chance de ser o Partido Republicano.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A TRIBUNA INTERNAUTA


Estou de pleno acordo com o movimento por uma Internet Livre e Democrática. Este espaço nós conquistamos e aqui expressamos livremente nossas posições e debatemos livremente nossas questões. Nesta seara manifestamos nossa crítica, nossa irreverência, nosso entretenimento e nossa influência social. Aqui nos tornamos um quarto poder. O poder da Opinião Social veiculada através da controvérsia e da tomada de posição diante de tudo aquilo que não concordamos, nas esferas políticas, sociais, artísticas, éticas etc., bem como de tudo aquilo que concordamos e apoiamos. Façamos deste espaço nosso ringue democrático e participemos assinando POR UMA INTERNET DEMOCRÁTICA E SOCIAL: www.causes.com
Não podemos permitir que esta tribuna democrática e social, seja amordaçada e manipulada pelos políticos e empresas, que visam interesses subalternos e a ocultação das vociferações públicas. Construimos aqui a nossa Tribuna, seja através do BLOG, através das redes sociais, através dos e-mails, através dos sites. Vamos endossar o Abaixo Assinado para preservarmos e alicerçarmos este espaço, para o bem de todos e da sociedade. Sem vendas, sem mordaças, sem burcas, sem nada. Simplesmente Livre.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A BURCA



A religião, por mais retrógrada que possa ser, não pode servir de meio para ocultação do indivíduo, principalmente num momento de alta tensão terrorista desencandeada pela AL Quaida de Osama Bin Laden. O que a França esta fazendo e outros países farão deve ser respeitado, pois o estado tem que ser laico para abrigar toda as diversidade religiosa.
A religião não pode ser um pressuposto dogmático para a ocultação pública, pois assim procedendo, o estado dissipa qualquer temor diante do oculto. Pode ser que não, mas pode ser que sim, por mais que o fiel esteja de acordo com os seus preceitos, poderá também estar de acordo com os preceitos do morticínio sagrado. Por isso, é bem vinda e salutar a medida no ocidente, bem como no oriente médio e África alguns países mesmo de maioria islâmica já adotam tal procedimento.
A igualdade de expressão pressupõe necessariamente, o respeito a todos pela visibilidade de suas ações e portanto de suas indumentárias.

PARALELOS

Embora a França seja pioneira na proibição à burca e ao niqab na Europa, outros países do continente já discutem restrições similares.
Na Holanda, o partido anti-islâmico que apoia o governo pressiona pela aprovação de uma lei nesse sentido. E, na Bélgica, uma lei do gênero foi aprovada na Câmara, mas está parada devido à crise política que paralisa o país.
Em alguns dos países de maioria islâmica com regime laico, há restrições desse tipo. Na Turquia, por exemplo, véus são proibidos em escolas e prédios do governo. Na Síria, no Egito e na Tunísia, há vetos em instituições públicas e órgãos do governo.
FSP

CIENCIOMETRIA PARA QUEM?


Certamente, a grande questão para  a avaliação da produção científica, num mundo altamente globalizado e guiado pelos dividendos monetários, fica dificílimo estabelecer mensurações que possam de fato refletir a realidade, mesmo tratando-se de ciência.
Ora, sabemos que no Brasil, país, agora, em evidência, porque segue e avança monetariamente, portanto, não podemos perder de vista que o money é o índice nuclear da avaliação, está se evidenciando neste momento para assim diferenciar-se ante os demais centros de excelência no mundo.
A USP de acordo com as diversas avaliações conferidas sofre abruptas estimativas, dependendo do setor e do critério definido por quem considera que assim deve ser feito, nos proporciona uma certa dúvida, pela dubiedade dos critérios avaliativos, como bem podemos discernir na reportagem.
Um dos mais fracos do meu ponto de vista, é a citação de trabalhos desenvolvidos e publicados. Ora, sabemos que os grandes centros americanos e europeus levam vantagens desproporcionais, tanto pela cultura, quanto por sua história. Mesmo que, tenhamos aqui trabalhos excepcionais. Só nos destacamos quando é algo estritamente inédito e, que ninguém houvesse pensado e/ou descoberto.
Portanto, a cienciometria, também é vulnerável e inexata, adstrita mais aos olhos dos condutores globais da ciência, que levam em consideração as condições, os meios, a tecnologia, os equipamentos do "fazer científico"; fora deste eixo douticiano nada mais prevalece.
Obviamente que não pretendemos vendar os olhos com a peneira, pois sabemos que muito temos o que melhorar em nossa atividade científica, mas não podemos deixar de observar que os critérios são também insipientes e frágeis nas suas avaliações. Não é a toa que os graus avaliativos são díspares e controversos entre as diversas agências de avaliação. Não é a toa, que avaliações desse tipo levaram o mundo a bancarrota econômica. Por isso nada custa deixar as barbas de molho.

A USP e o termômetro
Assim como os termômetros, rankings internacionais de universidades exigem manuseio cauteloso, por serem frágeis. No caso dessas listas de classificação, a vulnerabilidade maior decorre da dispersão de critérios utilizados e, por consequência, das colocações obtidas pelas diversas instituições. A Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, pode figurar na 15ª ou na 471ª posição, conforme os indicadores considerados.
A USP ostenta a maior produção científica nacional, com um quarto dos artigos brasileiros publicados em periódicos de nível internacional. Apesar disso, num dos mais citados rankings, o Times Higher Education (Reino Unido), a universidade paulista aparece em 232º lugar.
Uma de suas melhores classificações, um 19º posto alcançado na listagem do grupo Scimago (Espanha), decorre do alto número absoluto de estudos produzidos naquela que é a maior universidade de pesquisa do país.
O próprio ranking espanhol, no entanto, sinaliza que a USP produz muita ciência, mas não necessariamente da melhor. A qualidade, nesse campo de estudos conhecido como "cienciometria", é aferida com base no fator de impacto, o número de vezes que um trabalho é citado após sua publicação. O Scimago não chega a reorganizar a listagem com base nesse critério, mas indica que a universidade paulista está abaixo da média mundial.
A disparidade entre colocações ocorre até nos levantamentos de uma mesma entidade classificadora. A Universidade de Leiden (Holanda) posiciona a USP em 15º lugar, pelo volume de produção, mas esse desempenho despenca para 71º, 452º, 467º e 471º, após a ponderação dos números absolutos a partir de critérios como impacto e número de cientistas.
A cienciometria, já se percebe, não é uma ciência exata. Os rankings que produz sofrem muitas críticas, entre elas as de que servem mais a propósitos mercadológicos do que acadêmicos e empregam critérios enviesados em favor das instituições norte-americanas e europeias.
Nenhum pesquisador, contudo, quebraria os termômetros para provar que são frágeis, ou os desprezaria porque dão margem a imprecisões. O procedimento científico recomendado é fazer várias medições com múltiplos dispositivos -e, no que toca a rankings, a USP só se destaca naqueles em que seu gigantismo ganha peso desproporcional.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

SALINAS

 Da areia solfeja o hálito
do pitiú odor
de maresia
E nos meus passos
descalços e largos
o ventre dos pés assinalam
o peso dos ombros partidos

Comprido o estirão no
infinito estira-se
deitando-se molhado
por entre gravetos e pedras

As folhigens sem rumo
e sem paragem,
fortuitas perambulam a esmo
pelo corrimão do tempo
calcinado

Que arde em miragens
delirantes e salgadas.

 
30/10/02
SERGIO NUNES

domingo, 10 de abril de 2011

A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA


Soubemos na Paróquia de Sto. Expedito no Mangueirão, da Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), que um certo padre da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), havia dito em uma de suas celebrações numa paróquia do Benguí, segundo chegou aos nossos ouvidos, que os padres da ICAB são falsários e excomungados.
Em primeiro lugar, sabe este padre da ICAR, que o culto religioso é livre no Brasil e que somos amparados pela Constituição Federal para exercermos o nosso legítimo direito de celebração religiosa, notadamente a Santa Missa, portanto nos causa espécie tal comentário, se de fato houve, pois poderia tal padre sofrer um processo judicial e responder perante a justiça por tal afirmação, que além de intolerante é mentirosa.
Em segundo lugar, somos herdeiros legítimos da sucessão apostólica dos apóstolos, pois o nosso santo fundador, São Carlos do Brasil, foi bispo romano, portanto a nossa legitimidade é incontestável. De certo este padre ignora a história da Igreja, em especial nos idos de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, quando pontificava no Vaticano, Pio XII.
Terceiro, Dom Carlos Duarte Costa, o bispo de Maura, fora ex-comungado por Pio XII por não aceitar o alinhamento nazo-facista do Vaticano naquele período, como é largamente tratado por vários especialistas em história política da ICAR, bem como, tal relacionamento com os judeus, notadamente Israel, foi a pior possível. Fora as questões de ordem disciplinar que não vamos entrar no mérito.
Pois bem, Dom Carlos Duarte Costa publicou em 1945, o Manifesto à Nação, que este padre certamente desconhece, aonde ele rompe com o Vaticano e organiza a ICAB, que nos seus primeiros 50 anos sofreu muitas perseguições dos romanos, mas isso agora mudou, e muito. Nós da iCAB não vamos de forma alguma tolerar qualquer insinuação, afirmação ou intolerância a nossa Santa Igreja e aos nossos padres e fiéis, sob pena de entrarmos com um processo judicial, caso seja constatado e confirmado mediante testemunha tal leviandade, para que este padre sofra as sanções penais que o caso requer.
Somos ecumênicos e prezamos muito pelo bom relacionamento intereclesial, seja com os romanos, os espíritas, os umbandistas e os protestantes. Respeitamos a todos e convivemos muito bem, sem qualquer aversão. Pelo contrário, queremos estar unidos na propagação do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como todos os demais ritos católicos independentes do Vaticano, viemos também para somar.
Por isso, esperamos que não passe de boato tais notícias que chegaram até nós. Não ficaria bem, para a Arquidiocese de Belém ver seu nome envolvido numa situação dessas, principalmente na imprensa.
Desde já, expressamos nossa estima de alta consideração a todos os católicos romanos e/ou brasileiros e, que Deus na sua infinita misericórdia nos dê a sapiensa de testemunharmos com fé os preceitos de amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, agora e sempre.

Saudações carlistas,

Pe. Sergio Nunes, ICAB

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A DIGNIDADE DOS MESTRES


A aprovação do piso salarial pelo STF é uma grande vitória para a dignidade dos nossos mestres que vivem em regiões distantes, enfrentando sacrifícios por estes rincões de meu Deus. Sabemos que ainda é pouco, mas é um grande avanço. No entanto, o que me causa espécie é o fato da existência de uma PL para congelar os salários do funcionalismo público federal por dez anos e, aqui, entra novamente os professores, categoria tão espoliada por anos a fio e sequer tem o valor merecido levado em conta. Sabemos que ´são os professores responsáveis pela formação de todas as categorias de profissionais que fazem este país, pois nenhum tributo lhe pode ser prestado que lhe dar dignidade de vida. Na antiguidade eram amparados e mantidos pelos discípulos, que em geral eram nobres. Mas, agora, vivemos de contra-cheque, com descontos insuportáveis. E no entanto, paira sobre nós esta espada de Dâmocles via Congresso, quando deveríamos estar equiparados segundo os méritos de cada um, aos melhores cargos da república como o promotor, o juiz, o auditor, o deputado etc. Causa-me perplexidade ainda observar que o PT juntamente com a base aliada, parecem estar de acordo com esta PL, segundo dizem, por vontade do Planalto. Isso é de causar espécie. Caberia portanto a CUT, juntamente com outras Centrais e os partidos progressistas em especial o PT evitar que isso possa ocorrer. Sinto que sou uma voz que clama no deserto, pois não percebo ainda ninguém ecovibrar diante de tal malssinada investida. Por isso, na minha insipiente visão dos enredos políticos, sugiro que em vez de congelamento, se pensasse numa PL com garantia de dez anos de aumento ou vinte, de forma gradual e diferenciada para os professores, afim de que pudéssemos alcançar o patamar salarial dos bem aquinhoados da república, como ocorre nos países que realmente prezam pela educação. Sem dúvida o país ficaria quite com a categoria que o faz ser aquilo que é na sua profissionalização e competência, porque não dizer na sua moralização e dignidade. Essa é a nossa reivindicação: Justiça e Respeito.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O ABORTO EM QUESTÃO


Muito se falou sobre este assunto, antes, durante e depois da Campanha eletiva. Sabemos que tal assunto foi utilizado indevidamente em benefício próprio, bem como expressado atrozmente por quem deveria se manter cauteloso. Mas enfim, o mais importante, neste momento é refletir com temperança. A avaliação apresentada pela Profa. Janaíana Paschoal, além do bom senso e da razoabilidade, dispõe de propostas interessantes que devem ser discutidas sem exageros e sem passionalismos retrógrados, principalmente por especialistas na área jurídica, médica, ética e religiosa como amplo campo de debate em alto nível aonde se possa chegar a um diagnóstico salutar para a implementação de leis que venham a se somar as existentes no que diz respeito a prática do aborto.
Devemos levar em consideração determinados casos orgânicos, bem como, casos delituosos, excluindo-se obviamente casos fortuitos, tendo como premissa básica o resguardo da pessoa humana, seja a mãe, seja a criança. A vida não pode em nenhuma hipótese ser ameaçada, especialmente àqueles que são completamente indefesos. Aos gerados com graves anomalias, cujo destino irremediaável seja o óbito, deve-se consentir a anuência familiar para a decisão final. Aos gerados pela ignomínia delituosa, não se pode simplesmente consentir a sua prática, mesmo, que não seja de vontade própria da mãe. A criança nenhuma responsabilidade tem sobre isso, a mãe também não, mas uma vez concebido, passa a ser co-responsável pelo ser no ventre, gerado. E àqueles, que porventura, são os co-responsáveis pela prática abortiva, caberá individualmente a recusa, se assim lhe for condizente.
A lei deve ser benigna, e assim atender aos vários casos e situações limites, protegendo a todos igualmente, seja a mãe, seja a criança, seja o médico, seja a instituição, e punindo severamente aqueles que praticarem esse hediondo crime, mesmo que para isso haja razões aparentemente consistentes e irremediáveis.

Reflexão sobre a legalização do aborto
JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL

 
Que Dilma tenha a firmeza que lhe parece característica para implementar medidas mais efetivas que a alardeada legalização do aborto no país
Muito se fala sobre legalização do aborto, sendo diversos os argumentos favoráveis: o número de mulheres vitimadas, a ineficácia da proibição, o direito da mulher sobre o próprio corpo, o viés íntimo de decidir ser mãe, a origem religiosa dessa vedação.
Na esfera jurídica, respeitáveis estudiosos sustentam ser direito fundamental da mulher abortar.
No Brasil, a lei permite o aborto quando a gravidez decorre de estupro e quando a mãe corre risco de vida. Tramita no STF a ADPF (ação de descumprimento de preceito fundamental) nº 54, visando regularizar o aborto também em casos de anencefalia, para que gestantes e profissionais de saúde tenham um pouco de segurança quando deparados com tão difícil situação.
Permitir à mulher a escolha, nas três circunstâncias acima, é justo e tem um condão humanitário.
Nenhuma mulher pode ser condenada à morte em prol da gravidez. Nenhuma mulher pode ser condenada à tortura de, no caso de estupro, conviver com o fruto da violência a que foi submetida e, na hipótese de anencefalia, passar nove meses programando a cerimônia fúnebre do próprio filho.
O Estado não tem esse direito. Espera-se que o STF tenha sensibilidade para perceber que, em casos de anencefalia, o aborto é mais sentimental que no de estupro, pois neste a mulher ainda pode escolher ter e viver com seu filho.
Mas os defensores da legalização não se contentam com essas possibilidades: entendem ser um direito fundamental chegar a um hospital público e ter o aborto praticado. Desejam, portanto, mais que a descriminalização, que implica não submeter a mulher que aborta às agruras de um processo-crime. Com todo respeito, não há direito fundamental a ceifar uma vida. E o reconhecimento de que existe vida intrauterina não tem esteio apenas em crenças religiosas, trata-se de constatação científica.
Antes de pensar em legalizar o aborto, cumpre rever a lei nº 9.263/ 96, que regula o planejamento familiar e limita consideravelmente a esterilização.
Hoje, se um médico, a pedido da paciente, a esteriliza durante uma cesariana, estará sujeito a pena de dois a oito anos de reclusão, com aumento. A punição para quem realiza aborto com consentimento da gestante é metade disso.
Também é crime esterilizar pessoa casada sem que haja anuência do seu cônjuge.
Se tiver sucesso o pleito de legalização, estaremos diante de paradoxo: a mulher não tem direito a ser esterilizada, mas pode fazer quantos abortos julgue necessários.
O Brasil elegeu uma mulher presidente da República. Que esta mulher tenha a firmeza que lhe parece característica para implementar medidas menos invasivas e mais efetivas que a alardeada legalização do aborto.
Dentre tais medidas, toma-se a liberdade de sugerir, além da revisão da lei de planejamento familiar:
1) Instituir o parto anônimo, possibilitando à gestante fazer o pré-natal e o parto sem se identificar, deixando a criança para adoção;
2) Intensificar as campanhas de prevenção à gravidez e à contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, utilizando, inclusive, a televisão, que é concessão pública. Pesquisa do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) mostra que muitas mulheres acreditam que sexo anal previne gravidez e Aids;
3) Popularizar todos os métodos contraceptivos, sobretudo a distribuição e educação para o uso de preservativos. O Brasil é mais carente dessas medidas, polêmicas, porém menos que a legalização do aborto. Estamos nos distraindo discutindo o mais e deixando de fazer o menos.
JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, advogada, é professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.