terça-feira, 30 de novembro de 2010

ESSIENI, O DIÁRIO DE VIAGEM

ESSIENI

A partir da próxima semana, estaremos publicando semanalmente, um capítulo do Diário de Viagem realizado pela europa em 2000, portanto há dez anos, para que vocês possam se deleitar, não apenas nos lugares que passamos, nas emoções que sentimos, nas sensações que tivemos, mas, principalmente na estética da escrita, na forma do mosaico que foi montado, através de desenhos, imagens, contornos e musicalidade. Será postado no ARGUMENTANDI FILUM. Confira!!!

O CANIBALISMO PLANETÁRIO

HOLOCAUSTO CANIBAL-2


A economia é o motor propulsor das relações entre as pessoas, entre as cidades, entre os países, entre o mundo, foi por meio da troca e da venda que os ordenamentos e os ajustes das ações humanas foram se pautando. Na idade primigênia quem possuia e dominava o fogo, detinha maior poder estratégico de comando e jugo. Não é a tôa que os fâmulos pediam proteção ao pater familia para se livrarem do jugo dos bestiones que, para saciarem a fome, antropofagicamente consumiam a crua carne dos andarilhos errantes pela tenebrosa selva e, entre estes, já se guerreavam em busca de comida e de fogo. Assim agregou-se valores às coisas, a comida tornou-se imprescindível e o fogo necessaríssimo. Essa dinâmica prevalece até aos nossos dias. Em busca de proteção, a barbárie regressada se manifesta na emergência das medidas, dos acordos escusos e das defesas umbilicais num olhar ciclópico e restrito, o restante que se lixe. Como se, este restante não fizesse parte da parte maior; como se, o todo fosse infenso as suas partes e, a lesão em uma delas não afetasse a relação entre as partes e o todo.
Este é o grande desafio, dar ordenação e uniformização em meio às turbulências para que o todo possa se encaixar, ou melhor, se readaptar às ações entre as suas partes. Desafio que somente o olhar providentino é capaz de suplantar todos os entraves regressados na busca incessante do bem comum.
Mas, infelizmente, o barbarismo se conduz pelo subterrâneo da densa treva, como podemos observar agora com o escândalo do vazamento de documentos de espionagem do Departamento de Estado norte-americano no site do WikLeaks, que motivou a criação da sala de guerra para tratar desse assunto durante 24h, a mando da secretária de estado Hillary Clinton. Conjuguemos estes dois fatores que formam o estôfo necessário e útil da barbárie regressada pelo ânimo dos atores que atingirão sobremaneira o corpo dos expectadores. A delação, o embuste e a artimanha são decodificadas, registradas e arquivadas para a montagem de políticas estratégicas que desencadeiam e fomentam a belicosidade planetária, o canibalismo econômico. Salve-se quem puder, a vida.



Reprise de um filme triste


ABRAM SZAJMAN



A guerra cambial, portanto, está deflagrada: a queda de braço entre EUA e China é batalha que provoca estragos, e não só entre os contendores




A moeda é nossa, o problema é de vocês. A frase, que sintetiza o desafio lançado ao mundo na década de 1970, quando os Estados Unidos romperam o lastro em ouro que até então garantia o dólar, recupera atualidade porque, à semelhança dos remakes de filmes antigos, o governo norte-americano tenta reprisar o roteiro de saída da crise adotado no passado.
As semelhanças entre o momento que vivemos e as crises cambiais e do petróleo daqueles anos reside no mesmo artifício usado, então e agora, pelo país detentor da moeda de uso comum -única aceita por todos os demais- para superar suas dificuldades à custa de outros.
Esta ópera tem dois atos, e a trama adquire o sinistro aspecto de armadilha: na primeira parte, os EUA afrouxam a política fiscal, inundam o mundo com dólares e, assim, desvalorizam sua moeda em relação às demais, elevando artificialmente, com juros muito baixos, a produtividade de sua economia.
No segundo ato, quando se fazem sentir os efeitos inflacionários dessa política expansionista, elevam a taxa de juros interna, como fez em 1979 o então presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA) Paul Volker, fechando o alçapão para quebrar países endividados, como ocorreu naqueles anos. As comportas para o dólar barato alavancar as exportações dos EUA já estão abertas.
Algumas décadas de distância, um Muro de Berlim a menos e uma China pujante a mais, porém, fazem do panorama atual uma realidade bem diferente daquela que antecedeu o fim da Guerra Fria.
Num mundo economicamente mais amplo e efetivamente globalizado, os países emergentes de hoje resistem a repetir a postura passada do Japão, que consentiu na valorização de sua moeda e pagou o preço de uma forte e prolongada estagnação.
A guerra cambial, portanto, está deflagrada. A queda de braço entre Estados Unidos e China é batalha que provoca estragos, e não só entre os principais contendores.
Ela obriga países como o Brasil a tomar medidas custosas a fim de se defender da volatilidade global.
Muitos tentarão se proteger por meio de taxação, controle de capitais, regimes de regulação e intervenções diretas.
O resultado pode ser um mercado financeiro global fragmentado e uma consequente onda de protecionismo que tende a transformar todos os participantes do jogo em perdedores.
A esperança para alterarmos o final desse filme triste, que no passado desembocou na Grande Depressão e na Segunda Guerra Mundial, concentra-se na mudança de atitudes e de paradigmas.
É necessário romper com o padrão de acumulação a qualquer custo herdado das revoluções mercantil e industrial, que levou à destruição ambiental e à exclusão social de bilhões de pessoas, substituindo-o por um modelo cooperativo, planejado em organismos multilaterais como o G20.
Um único país, ainda que seja o mais poderoso, não pode manter a exclusividade do lucro, enquanto no auge de uma crise gerada em suas próprias entranhas emprega a força para socializar os prejuízos.
É da natureza do escorpião matar o sapo que o transporta para a margem do rio, mas tem de deixar de ser da natureza do capitalismo o egoísmo e a ganância desenfreada, que podem novamente conduzir os países à desagregação e o mundo inteiro à barbárie. FSP-30/11/10



ABRAM SZAJMAN, empresário, é presidente da Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), dos conselhos regionais do Sesc (Serviço Social do Comércio), do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O REDENTOR ULTRAJADO




  Interessante desabafo, que nos leva a inquirir sobre várias questões tão pertinentes, quanto urgentes de debate. O Rio de Janeiro, hoje é palco de guerra entre narcotraficantes, a polícia, o exército e a marinha. Somam-se as legiões de bandidos que aterrorizam e infernizam a vida do pacato cidadão.
 No primeiro enfoque destaco a queixa pungente da sociedade, que de certo modo se vê encurralada pela ação dos bandidos; numa outra perspectiva a indignação por conta do alto investimento feito em segurança, do alto investimento feito na construção de penitenciárias com todos os seus padrões de modernização; o alto custo para a sociedade manter esses marginais na prisão por longos anos; a indignação frente ao aparato militar que guarnece esses bandidos, que são abastecidos por fontes altamente poderosas e milionárias num plano não apenas local, mas eminentemente internacional; o aparato da lei que protege demasiadamente os delinquentes colocando em risco a vida do comum cidadão; a facilidade com que a justiça libera esses criminosos que voltam a delinquir.
 Por outro enfoque, temos no próprio aparato policial um dos tentáculos do crime organizado, uma retroalimentação constante entre bandido e policial por um cordão umbilical; o bandido rouba e mata e o policial faz as contas corrompendo-se. De certo outros tentáculos estão na teia das instituições, envolvendo advogados, políticos, juízes, comerciantes e até banqueiros.
 A grande verdade que este é um problema muito mais gigantesco, que envolve o crime organizado internacional, em cuja rede está principalmente os grandes Bancos que alimentam e retroalimentam fortunas geradas pelo narcotráfico.
 A solução estaria num trabalho conjunto entre os governos das nações; o G20 poderia abrir este debata através de um Fórum Mundial, para que se contenha esta ação avassaladora que contamina o mundo inteiro deixando os países mais pacíficos a beira de um colapso criminoso. A ação integrada entre as polícias e o apoio maciço da população legitima o cerco aos bandidos nos morros da Penha.
 É siginficativo o artigo de Walter Fanganiello Maierovitch na Carta Capital de 23/12/09, que diz: "Após a queda do Lehman, faltou liquidez para os bancos mundo afora. Aí entraram 300 bilhões de dólares oriundos das drogas".
 "A Agência antidrogas e anticrime das Nações Unidas, dirigida desde 2002 por Antonio Costa, um burocrata e sabujo de Busch saído dos quadros de funcionários de carreira da ONU, declarou ao britânico The Observer, milhões e milhões de dólares proveniente do mercado ilegal de drogas, nestes tempos bicudos de crise, circularam pelo sistema financeiro: "Os proventos da criminalidade internacional foram para os bancos, em muitos momentos, o único capital de investimento líquido (em papel moeda) disponível".
 Vejam, portanto, que a situação é gravíssima. Como se não bastasse, o narcotráfico socorre o sistema finenceiro internacional, numa clara e definida ação, enquanto aporte para atenuar as dificuldades financeiras, dando, assim, legitimidade por via monetária à ação do banditismo.
  Somente uma medida efetiva e determinada dos governos poderá deter esta ação avassaladora que nos atingiu sem qualquer defesa. Estamos a mercê da BANDIDAGEM INTERNACIONAL!!!, o colarinho branco meliante uniu-se umbilicalmente ao estorvo da ralé nos morros cariocas. Estamos encurralados! E o Cristo Redentor ultrajado!







Policiais ocupam a fortaleza do tráfico
Traficantes fugiram a pé ou de moto da favela, na zona norte, para o vizinho Complexo do Alemão
"A comunidade [da Vila Cruzeiro] hoje pertence ao Estado", anunciou delegado, ao final da operação de ontem

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ALMAS IRIDESCENTES

EU ZÉ E RUTE

Belas recordações me trazem a Comunidade Esmeraldina na paulicéia, sempre estávamos muito solícitos e grudados uns aos outros com todos os seus percalços. Cada um tinha a sua vida independente e simultaneamente bem próximos. Construímos uma sólida amizade que até hoje rememora-se a cada encontro realizado. O Zé, meu amado afilhado, que por sua sensibilidade, paulistano como é, embora traga sangue nortista em suas veias, expressa como bom paulista a sua reprovação em forma poética. Valeu Zé! Confira.


Benção, Padrinho!
Sobre este mesmo tópico, hoje eu escrevi um poema.
Abs,
 
 
 
Almas iridescentes
 
Eu não entendo
aqueles jovens comendo
lâmpadas fluorescentes
cuspindo pétalas incandescentes,
inconscientes pelas calçadas
 
Eu não entendo
esses rapazes partindo
lâmpadas incandescentes
sobre as cabeças de tanta gente
inutilmente manifestada
 
Eu não entendo
as crianças violentas
violentas, violentas
esquizofrênicas,
malcriadas
 
Eu não entendo
as crianças-violeta
fluorescentes, atiradas
caindo estúpidas
na calçada.
 
Eu não entendo
essas almas iridescentes
se desprendendo pelas bocas
de crianças doces,
bem-criadas.
 
Eu não entendo
essas pilhérias carcinogênicas
de crianças que,
no espelho,
são metade da mesma lata.

A INTOLERÂNCIA PAULISTANA



Casos suficientemente emblemáticos, que nos apresentam o nível de preconceito do estado mais rico do país. Riqueza, aliás, à custa de nordestinos famélicos em busca de melhoria fora dos sertões e das secas. Por sinal, é expressivo o número de nordestinos em São Paulo. Estão em todos os setores, em todos os cantos, em todas as ruas: operários, motoristas de ônibus e cobradores, diaristas de apartamentos, motoristas de táxis, garçons, garis, balconistas, zeladores, bagulheiros e marreteiros. Esse povo infesta a cidade de São Paulo, dando-lhe um perfil completamente diferenciado. Na praça da Sé formam rodas para apresentarem seus serviços medicamentosos, instrumentais e prestidigitadoriais, quando não, com suas cantorias de cordel e churrasquinho de gato defumado dão ânimo a selva de pedras. Enfim, são os sustentadores dos serviços que fazem esta cidade respirar. São os fâmulos servis dos pater familia paulistano, os lambaios da elite branca tão bem definido pelo branco elitista Claudio Lembo. O que seria de São Paulo se não fosse o nordestino? Provavelmente não existiria, ou não seria o que é hoje, com esta multidão de braços maltratados e calcinados pelo labor diário nas fábricas, no trânsito, nas faxinas dos apartamentos, nos bares e restaurantes, bem como na cozinha para os apaniguados, na limpeza de bueiros, valas e calçadas, praças e paradas coletivas e no metrô. Enfim estes fazem São Paulo se mover, pois carregam o impulso do seu vigor nos seus braços, mas levam também, o desprezo e a opressão da desigualdade racial que os separa dos euro-brasilianos de colarinho branco e de sotaque empostado do paulistano esbranquiçado nos guetos dos shopping centeres e das mordomias seletas que a paulista oferece. Criou-se de certo um embate intestino que jaz no subterrâneo das relações necessárias e na interpessoalidade útil que a ambos uni inevitavelmente, o caso Mayara é revelador. O resultado eleitoral é o sinal visível dessa dissenção social. Serra perdeu em seu território pela avalanche dos fâmulos nordestinos que prestigiaram seu conterrâneo, o irmão da mesma base e do mesmo horizonte.
Como se não bastasse, os meninos irrequietos, patricinhos e bem nutridos da classe média paulistana, aprontam contra rapazes que caminhavam transeuntemente na Paulista. A agressão, fruto de uma educação efêmera, própria de filhinhos de papai que acham que podem tudo, que nada os acometerá, investem contra grupos de tranquilos caminhantes porque consideram que sejam homossexuais. E se fossem? Qual o problema? Mas uma referência preconceituosa de meninos aborrecentes que deveriam levar umas boas palmadas para que a ordem fosse estabelecida e evitassem esta barbárie regressada, fruto de uma educação incipiente e devassa, sem critério e sem imposição de limites.
A ordenação das ações humanas é um elemento imprescindível para a formação do caráter e da personalidade dos infantes. Pela ordenação se estabelece os valores de preservação e de boa convivência entre todos. Cabe a intelligenzia paulistana debater estas questões e influenciar na mentalidade dos seus próceres, afim de evitar um confronto intestino que se formou entre paulistas e nordestinos que deixou sem dúvida, algumas marcas indeléveis e invisíveis, bem como, cultuar a boa convivência para a tolerância peculiar a nossa brasilidade, parte de nosso acervo mais rico, a nossa multiculturalidade.


Justiça manda internar garotos agressores

Pela decisão, os quatro adolescentes suspeitos de ataques na avenida Paulista irão para a Fundação Casa


Ministério Público solicitou a medida após analisar imagens de vídeo que contrariam a versão dos acusados 



DE SÃO PAULO 
DO "AGORA"

A Justiça decretou ontem a internação dos quatro menores de idade acusados de agredir pedestres na avenida Paulista na semana passada.
Dois ataques, com três vítimas, ocorreram por volta das 6h30 de domingo, 14. Um terceiro, às 3h do mesmo dia, deixou mais uma vítima.
Os acusados disseram que se envolveram em uma briga após serem provocados. Para a polícia, os ataques tiveram motivação homofóbica.


FERNANDO DE BARROS E SILVA

O "caso Mayara"

SÃO PAULO - "Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!". A mensagem é muito repulsiva e precisava ser combatida. Sobre isso, não paira nenhuma dúvida. Há, porém, várias maneiras de condenar um ato.
Incomoda-me, de um lado, que a primeira reação seja a de ir à Justiça para punir a jovem. Não porque a tipificação do crime que se atribui à estudante Mayara Petruso seja tecnicamente complicada. Incomoda-me, antes, nossa inclinação quase automática para transformar um problema social num caso de polícia. Isso evidencia como ainda nos falta cultura política democrática.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

AMÉM

ATORRES


Realmente hilária est! Et cum spiritu tuo!

ECLUSAS DE TUCURUÍ



Mais uma demonstração da inserção da UFPa no desenvolvimento do estado do Pará, participando ativamente da realização das eclusas de Tucuruí que finalmente saiu do papel, pela ousadia, enfim, do governo Lula que fez e peitou essa obra. O desenvolvimento advindo desta construção trará benefícios importantíssimos para o estado, e com ele uma série de problemas que devem ser previstos pelos governos, tanto federal quanto estadual, daí a fecunda necessidade de uma ação integradora e não desagregadora, como, também, de parceria entre os adversários políticos, se tiverem realmente a intenção de fazer o melhor pelo Pará. O momento é de grandeza entre as partes, em especial daquele que precisará e muito da ajuda federal para fazer o melhor. Está de parabéns a governadora Ana Júlia que deixa o governo em alto estilo, com todas as obras em andamento e outras por inaugurar, mantendo tudo em ordem e funcionando normalmente, como podemos observar pela cidade de Belém e pelos empreendimentos no interior. Deixa o governo para que o próximo possa prosseguir o que está em andamento e realizar mais ainda. É isso que queremos. É isso que esperamos.

BEIRA DO RIO/UFPA

Ainda este mês, serão inauguradas as eclusas de Tucuruí, cujo objetivo é transpor o desnível de cerca de 69 m criado pela construção da Hidrelétrica de Tucuruí e dar continuidade à navegação no trecho do rio interrompido pela barragem. As eclusas serão quase do tamanho do Canal do Panamá e abrirão grandes portas de acesso ao Pará e daí para o mundo. A Universidade Federal do Pará integra os projetos de aproveitamento hidroviário e de derrocamento de pedrais do Rio Tocantins, sob coordenação do professor Hito Braga de Moraes, da Faculdade de Engenharia Naval.
A conclusão das obras e a eliminação do conjunto de pedras permitirão a operacionalização da Hidrovia do Tocantins, um antigo sonho dos paraenses. A inauguração das eclusas I e II constitui, assim, um marco socioeconômico no Estado e no Brasil. "Ao interligar o sul do Pará e o centro-oeste brasileiro ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena, surgirá uma importante alternativa de transporte de produtos na região", explica o professor. Segundo ele, produtos, como a soja, o minério e o carvão, poderão ser levados, via hidrovia, até o porto de Barcarena, barateando o frete e tornando os insumos mais competitivos no mercado internacional. Cabe destacar que o custo por quilômetro da hidrovia é duas vezes menor que o da ferrovia e seis vezes mais baixo que o da rodovia.

WOOD ALLEN



De certo, um dos poucos cineastas que vive intensamente e visceralmente a arte copiando a vida, bem como a vida copiando a arte via psicanálise, é Wood Allen. O cinema sempre foi seu divã predileto e sua vida o inferno entre o id e os demais egos, numa luta permanente com o instinto de morte. Sabemos do caso da filha adotiva que se tornou sua mulher, seria um distúrbio de electra ou a cobiça de tânatus? No cinema o alter-ego é o personagem sempre constante protagonizando suas crises e surtos existenciais. Faz de Freud sua referência idólatra que se manifesta nos diálogos subjetivos, longos, intermináveis e chatos para o deleite do expectador. Consegue transmutar a psicanálise em catarse delirante e ficção com ressaibos de cientificidade agonizante. Por isso, vive sempre delirando para fugir da morte e soterra-se no egocentrismo diluviano que inunda sua vida paralela e simultaneamente confronta-se entre o ser e o não ser da sua psicose, no embate constante entre o consciente e o inconsciente, este ser adivinhado pelos devaneios da enunciação ou pelos cortes gráficos das projeções a varejo no leito da tela. Confira.

Tristeza velhaca


Por que filma, ainda, Woody Allen? “Para continuar pegando a garota no final do filme”, veio a resposta espirituosa
aos jornalistas que indagavam seu comparecimento às telas na razão de um filme por ano, durante o encontro no Festival de Cannes, em maio. Se certa mecanicidade se expõe no resultado dos seus recentes trabalhos, talvez seja o caso de atribuir maior inventividade às palavras do realizador do que a suas histórias filmadas. Tese Que Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, em cartaz dia 26, faz por corroborar. Um novo-velho Allen recicla a ideia com tempero melancólico.

Os personagens são, bem ao gosto do cineasta, casais em crise de diferentes gerações, na Londres que Allen se habituou a filmar e em Nova York. O par mais experiente é formado por Anthony Hopkins e Gemma Jones. Quando o marido a abandona por uma jovem, ela vai se consolar na vidente e na casa da filha (Naomi Watts), esta atraída por um galerista charmoso (Antonio Banderas), situação que agrava a relação com o marido (Josh Brolin), escritor frustrado interessado na bela vizinha (Freida Pinto). Há mais desejos e traições a fechar o círculo nesta história que foi vista em Cannes como uma comédia triste.
“É a minha perspectiva da vida, uma experiência sempre obscura, dura, dolorosa, um pesadelo. A única maneira
de sobreviver é se iludir e mentir, pois do contrário a vida se torna insuportável.” E como essa noção no filme também corresponde ao tema da morte, foi inevitável saber de Allen sua postura. “Continuo sendo intensamente contra a morte. Aconselho que a evitem, se puderem. É o que venho fazendo.”

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

TACACÁ



Interessantíssima a crônica de Mogilka sobre o tacacá, mesmo sendo gaúcha soube descrever com visceralidade aquilo que nós paraenses tão bem conhecemos e vivenciamos na absorção indescritível de cada elemento naturalíssimo de sua composição, como o tucupí, soro de amarelo vivo, sabor intenso e odor inebriante. Disse-me, certa vez o falecido Romeu Mariz, "o tucupí é tão gostoso, mas tão gostoso, que sandália havaiana no tucupí é uma delícia". A única exceção foi a folha referida, porém não nomeada e nem desgustada como deveria. O jambú, nosso afrodisíaco adstrigente com o seu sabor corrosivo e fremente que deixa nos beiços aquela sensação única de ardência equatorial provocativa de uma sede suspicaz que deixa a água com um sabor de saciedade refrescante. Confira.

Vera Mogilka²

 
 "O tacacá, toma-se? bebe-se? sorve-se? saboreia-se? Não, O tacacá  deseja-se, de repente, como se deseja uma mulher, como se deseja
 retornar ao amor da adolescência. 

O tacacá possui o toque agudo da  saudade. A memória de seu sabor salgado e ar­dente assalta-nos sem  aviso, em pleno dia, em determinadas horas de distração. Naquele  momento involuntário de repouso quando, por fim ao cair da tarde sobre  o rio, respiramos. Certo e pequeno instante, dezenas de sugestões  cruzam a mente. Todos os atos gratuitos e cheios de graça da vida: uma  criança correndo na grama, braços em repouso e um regaço, mãe  amamentando o filho, avião acendendo e apagando as luzes na bruma da  noite, navio singrando a baía, luar úmido sobre igarapés - vontade de  tomar tacacá. Desejo de tacacá. Porque, para tomá-lo, é preciso, antes  de tudo, um ritual.

 É preciso que seja ao anoitecer. Ainda não de todo noite completa;  ainda não dia findo. Àquela hora semi-crepuscular, indecisa e feminina  quando, por fim, o céu se envolve de um azul-cinzento intenso ou  aquela chuva antes da saída da lua. É preciso que estejamos cansados,
tão fatigados que nada nos afigure mais necessá­rio, naquele momento,  do que tomar um tacacá. Nem o bate-papo informal com o amigo. Nem o  café no Central. Nem o olhar à mulher que passa. Apenas, a pro­cura, a  única procura por um tacacá, com pouca pimenta ou muita e bem quente.

 Depois, é preciso que haja um banco. Tacacá toma-se sentado para que o  corpo repouse e possa se entregar completamente ao prazer de
saboreá-lo. Porque o tacacá é extremamente absorvente. Quando bem  feito, o que ocorre pouco. Pois fazê-lo e tomá-lo é uma arte. É preciso, também, que a noite desponte ao chegarmos junto ao carrinho  de tacacá. E comece a chover, levemente. Faça algo de frio, algo de
 úmido. O que não é difícil em Belém.

 Depois, como estamos cansados e  queremos esquecer, esperamos. Uma paciência longa e calma, até que a  dona do tacacá termine por prepará-lo. De preferência que seja em  Nazaré ou olhando a Igreja da Trindade. É preciso que o tucupi seja  leve, amarelo-canário e novo. Que a goma bóie no líquido, espalhada  por acaso e se mostre apenas por alguns instantes; que não haja muita  folha; que os três ou quatro camarões sejam médios, nem grandes demais  ou minúsculo e somente uma parte deles apareça, a ligeira carne rósea  a deixar-se entrever, adivinhar-se na cuia olorosa. Depois, é preciso  que haja sal e pimenta de cheiro, mas não em demasia; o suficiente  para nos queimar a alma nos primeiros goles e reanimar o corpo; então  renascemos para a noite e a alegria novamente nos habita. O suficiente  apenas para desvanecer seu fervor após esses primeiros goles e  tornar-se depois, uma presença quente, já quase uma memória, na ponta  da língua.

 É preciso saber tomar o tacacá. Aos primeiros sorvos integralmente seu  calor, sua salinidade, seu gosto de mar quente, de arbusto e molusco  que os lábios experimen­tam fugidiamente. É preciso que o jambu e os  camarões pousem lentamente no fundo da cuia e venham à boca, por si  mesmos, sem o auxílio dos dedos. É necessário que não sejamos   interrompidos. Apenas um aceno de cabeça aos conhecidos que passam. Um  filtro mágico que se bebe em silêncio e solidão. Somente a comunicação  imperceptível com a tacacazeira: feiticeira moderna numa terra onde as  lendas ainda sobrevivem em um mundo que se materializa  inexoravelmente. 

 Chegados ao fim do tacacá, é preciso que o mesmo ainda se conserve  morno, assim como o fim de um amor. Jamais frio. Não existe nada pior  do que um tacacá frio. É como champanhe sem gelo. Neste momento  tomaremos contacto real com as grandes porções maternais de goma  penetradas pelo tucupi e pela amargura das folhas. Há sempre um gato  gordíssimo perto do carro de uma tacacazeira. Ele comerá,
 displicentemente, as cascas de camarão que atirarmos ao chão. A cuia  está vazia.

 ¹ - Crônica publicada dia 16 de fevereiro de 1964, no jornal "A  Província do Pará" , editado diariamente em Belém do Pará.

O PAPA E A CAMISINHA



Sem dúvida que nos interpela sobremaneira as declarações do sumo pontífice sobre o uso da camisinha. Há necessidade obviamente de se ler o livro para que se tenha uma avaliação mais apropriada das declarações. No entanto pela afirmação do teólogo Willian Portier, em quase nada alterou as declarações do santo padre.
Quanto ao uso do preservativo para evitar o HIV, foi taxativo em dizer que não seria o modo apropriado. De certo tem sua razão, mas seria um dos modos, pois não existe um único. Admitir que se abstenham de qualquer relação fora do casamento, muito embora, mesmo no casamento a relação tería que ser de absoluta fidelidade, teríamos assim um quadro perfeito, inexorável e ideal para evitar a proliferação ou o contagio do HIV, mas devemos ser realistas e não nos perdermos nas sinuosidades da doutrina perfeita e ideal. Afinal, o homem é fruto de uma decadência, o pecado original e, com este é que devemos nos ater. E por isso mesmo devemos realisticamente nos prevenir e evitar a proliferação e contágio do HIV. Se Deus na sua divina providência nos deu a lucidez emanada do Paráclito para ordenarmos as nossas ações de forma apropriada, cabe-nos portanto encaminhar soluções mais adequadas e reais para evitar o pior. Portanto, consideramos o uso da camisinha de necessidade extrema e de utilidade eficaz, segundo a concordância geral da comunidade científica em oposição as suas raríssimas exceções.
Quanto a prostituição, realmente não entendí como primeiro passo para a "moralização", o uso do preservativo, talvez seja o caso de ler o livro para um juízo mais apropriado. Posto que não consigo supor a moralização da prostituição pelo uso da camisinha. Mas está havendo uma controvérsia pelo uso do termo "prostituição" ou "prostituto", enfim vamos esperar para uma melhor avaliação.


Papa admite camisinha em "alguns" casos
Santa Sé surpreende ao divulgar trecho de livro ainda inédito no qual Bento 16 flexibiliza veto a preservativo

Em entrevista, pontífice diz que uso se justifica para prostitutas, porém reitera rejeição a adoção como método anti-HIV

GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

O papa Bento 16 admitiu que, "em alguns casos singulares", o uso da camisinha "pode ser justificado", indicando uma possível mudança na postura da igreja sobre o assunto. Ele citou como exemplo o uso de preservativos na prostituição.
As declarações estão no livro "Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo", que compila um mês de conversas do pontífice com o jornalista e escritor alemão Peter Seewald.
Extratos do volume, que será lançado na terça pela Livraria Editora Vaticana, foram antecipados ontem pelo jornal "Observatório Romano", do Vaticano.
Embora alguns líderes da igreja já tenham falado sobre o uso da camisinha em casos específicos, essa é a primeira vez que o papa menciona ele mesmo -e publicamente- essa possibilidade.
"Concentrar-se só sobre a camisinha quer dizer banalizar a sexualidade, e essa banalização representa a razão perigosa pela qual tantas pessoas não veem mais na sexualidade a expressão de seu amor, mas apenas uma espécie de droga."
"Pode haver casos individuais justificados, por exemplo quando uma prostituta utiliza um preservativo. Pode ser esse o primeiro passo em direção a uma moralização."
No livro, porém, Bento 16 também reafirma posicionamentos como o de que a camisinha não serve como pilar no combate à Aids.
"Mas não é esse o modo verdadeiro e próprio para vencer a epidemia do HIV", afirma.
Em 2009, o papa sofreu críticas de organizações internacionais, governos europeus e estudiosos ao afirmar, na África, que preservativos não só não solucionariam a questão como a agravariam.
"Se Bento 16 levantou a questão das exceções, ela precisa ser aceita. Mas a necessidade extrema precisa ser demonstrada."
Para William Portier, teólogo católico da Universidade de Dayton, em Ohio, os comentários não representam necessariamente uma mudança fundamental.
FSP 21/11/10
Colaborou ANASTASIA CAMPANERUT

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

TECNOBREGA EM SAMPA



Quem diria, Gaby Amarantos em Sampa na Augusta. Lembrei-me de Boracea, uma bela praia no litoral paulista, aonde fica a casa do Tinho e da Yó. Nesta noite tomávamos vinhos chilenos regados a salada natural e raviolli com queijo e azeitonas pretas suculentas, ao som da Gaby, "PAREM DE BRIGAR", na bela performance de Yó com seus longos braços abertos no ar, seus cabelos esvoaçantes e seu corpo em volteios tecnobreguenses. Sua voz ressoava e suas pernas dançavam em rítimos permanentes. Apreciávamos a desenvoltura da dançarina paraense naquela noite soturna de um céu estrelado que contemplávamos do alpendre.

19/11/2010 - 15h04

Beyoncé do Pará garante o rebolado no Baixo Augusta

DE SÃO PAULO
A cantora paraense Gaby Amarantos se apresenta no palco do Comitê, na rua Augusta, nesta sexta-feira (19). Gaby é mais conhecida pelo apelido de "Beyoncé do Pará", por conta da sua versão "Eu Tô Solteira", da música "All the Single Ladies", da musa pop Beyoncé.

OS DENTES DO PMDB



O balcão e bocão de negócios do PMDB, a camarilha corrosiva do poder no Brasil, mostra suas garras. Os patifes continuam como sempre ávidos por sangue de influências, numa ação vampiresca de levantar drácula do túmulo. Embora, ainda bem votados pela canalhice brasileira que prolifera aos borbotões, não possuem minimamente o escrúpulo de serem cortês, afinal, alçaram o poder nunca dantes visto, com a vice-presidência da República. Era de crer que o seu titular mor Michel Temer fosse suficientemente polido para administrar tanta sede ao pote, mas foi justamente o primeiro a sair do túmulo para atacar as vítimas, ou a vítima.
Não é a toa que o PMDB carrega em sua biografia a marca dos títeres mais contumazes na corrupção e, que infelizmente e disso se aproveitam, ninguém, nem qualquer partido pode governar sem ele, até quando não sabemos, mas é preciso escorraçar publicamente com o exorcismo do voto e a depuração crítica via educação essa horda de meliantes que se encastelaram no poder.


VINICIUS TORRES FREIRE 


A orelha sangrenta do PMDB


É possível ao menos conter a avacalhação da barganha de ministérios com a "base aliada" e seus oportunismos





É VERDADE que uma pessoa pode passar por idiota ao fazer uma pergunta dessas, mas até para não se render de vez à avacalhação político-programática a gente tem de inquirir: o governo de transição não vai exigir programa ou qualificação de quem vai assumir os ministérios loteados para a "base aliada", para o "blocão" ou, em suma, para o PMDB e similares menores?
É também verdade que o entendimento comum e correto a respeito do assunto é aquele muito bem estilizado pelo cartunista Scabini, na página A2 de ontem da Folha. Na caricatura, uma Dilma Rousseff boquiaberta ouve de um assessor as exigências da "base aliada", demandas que vinham acompanhadas mafiosamente de uma orelha sangrando. Mas precisamos aceitar sem mais a chantagem?
Em parte, nós jornalistas temos culpa nesse cartório, pois condescendemos com tais comportamentos "coisa nossa" e tratamos apenas de relatar as "negociações do resgate", entregues a um cinismo terminal, ainda que por vezes até inconsciente. Mas poderia ser uma promessa de final de ano da presidente eleita, e do jornalismo exigir que a "base aliada" passe a apresentar programas de governo.
É óbvio que o deboche não vem de agora; que os governantes têm pouco espaço de manobra, dado o nosso "presidencialismo de coalizão" com o atraso. Fernando Henrique Cardoso, com seu pragmatismo bem pensado, notou logo o problema e tomou a decisão cristalina de reservar uma parte do ministério para um projeto de governo. O resto foi mais ou menos "seja o que Deus quiser", limitado por projetos "transversais" de governo, como privatizações e agências reguladoras.

FHC reservou para si as pastas econômicas, comunicações, saúde e educação. O mais foi quase todo "peemedebizado" a sangue-frio, pois sem isso haveria caos no Congresso. Lula não teve tal previdência e, no seu primeiro mandato, a emergência do petismo de resultados misturada a uma coalizão parlamentar fraca acabou dando no escândalo do mensalão.

(FSP, 19/11/10)

SINDICALISMO



Estarrecido fico, quando observo a desenvoltura sindicalista e suas artimanhas no poder, como aranha a fiar sua teia e a entrelaçar a burguesia menoscabiante e arisca. De certo, sua artimanha, sutilmente encaminhada nos escaninhos do Congresso, via Vicentinho, segue a estratégia de corroer por dentro o sistema midiático, através da pecúnia alheia, o cidadão comum. Mais uma despesa para o tão sofrido bolso pela alta carga tributária, que precisa ser revista com urgência. Daí quem sabe não se poderia discutir e propor um "horário sindical gratuito"; já não basta o sustento público, digo, dos nossos impostos para manter a máquina sindical às expensas do estado? Isso é vergonhoso!
Basta de mamar nas tetas do poder. O sindicalismo deve autogerir-se e autossustentar-se. Afinal, são formados por milhões de trabalhadores na ativa que podem muito bem pagar suas taxas mensais regularmente, basta administrar e, administrar bem.
Portanto, mais despesa para o erário público, não! Reforma Tributária e Trabalhista, sim! Certamente que tal proposta configura-se, entrementes, em Peculato, daqueles mantidos pelo dinheiro público. Ou, porque não? Montar seu próprio sistema de comunicação: suas Tvs e Rádios.


Horário sindical

Tramita na Câmara um projeto de lei que busca criar uma espécie de "horário sindical gratuito" para as centrais sindicais. A proposta é conceder a essas instituições dez minutos por semana de transmissão -em emissoras de rádio e TV- de suas "mensagens", "temas de interesse" e posições em assuntos "político-comunitários".
É mais uma ideia com o intuito de beneficiar a casta sindicalista que prolifera à sombra do Estado, mais voltada para seus próprios interesses políticos e materiais do que para as demandas de seus representados.
O governo Lula nada fez para modernizar o sindicalismo brasileiro. Ao contrário, reforçou suas conhecidas distorções. A unicidade sindical -só pode haver um sindicato por categoria em cada região- e as contribuições obrigatórias, dispositivos herdados do Estado Novo, têm vinculado o sindicalismo, há décadas, aos cofres e interesses dos governantes.
Ao propor as inserções, proporcionais ao número de trabalhadores vinculados a cada central, o deputado Vicente da Silva, o Vicentinho (PT-SP), não se esqueceu de prever que as emissoras de rádio e televisão tenham "direito a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito". Estaria criado mais um instrumento a canalizar recursos públicos para a atividade sindical -e a reforçar seu aninhamento no colo do Estado.
O deputado afirma que a lei se faz necessária para garantir "liberdade de expressão" à sociedade civil. Por essa tosca visão, faltariam horas no dia para que as corporações e instituições sociais pudessem se "expressar" em programas autopromocionais impostos aos canais de rádio e TV.
A proposta, até aqui, foi aprovada na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara. Terá ainda que ser submetida ao crivo de outras instâncias. É de esperar que prevaleça o bom senso e estapafúrdio projeto seja rechaçado. (FSP, 26/11/10)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

INTERNET




INTERESSANTE INTERNET STRESSANTE E FASCINANTE
Caro Varella,
Este assunto me fascina e por vezes me assusta. Pois os caminhos que podem e devem ser percorridos são incomensuráveis. Há de se notar duas variáveis muito interessantes: 1. àquilo que diz respeito aos meios de comunicação; 2. o que mudou na vida da nova geração.
Ainda há pouco participei de um Fórum do PARFOR (programa do MEC para a graduação de professores do ensino fundamental e médio) e, neste, houveram várias questões pertinentes, mas uma me chamou mais a atenção pela facilidade com que pode ser resolvido alguns problemas de ensino/acompanhamento à distância. Como acompanhar os professores-alunos (PA) nos períodos de elaboração dos trabalhos e, como promover a interdisciplinaridade dos mesmos?
A meu ver, a única forma é a que já temos, isto é, a Internet, a segunda, é como estabelecer estrutura que permita este acesso. Então temos, neste item, dois aspectos importantes: prover de uma estrutura mínima as escolas para acesso dos PA e, propiciar o acesso dos mesmos. Então, temos que ter, uma sala para este fim e, uma disciplina de Informática para que eles aprendam o básico: Word, internet, e-mail e Skype para a comunicação webcaniana com o professor-tutor (PT) e, ainda, caso seja interdisciplinar, uma rede de conexão virtual coletiva em que possamos nos encontrar ao mesmo tempo em lugares diferentes. São formas sofisticadas, mas possíveis. Caso contrário, a interdisciplinaridade e o acompanhamento não serão exequíveis.
O outro ponto, diz questão aos adolescentes. Sabemos que o mundo virtual, a cada dia se torna real. A internet para eles não é apenas um veículo de comunicação, mas além disso, é uma vivência natural, é um relacionamento vivencial. Não há um hiato entre o mundo virtual e real como nós o concebemos. Para eles, é a extensão da própria vida. E, por isso, comporta em si mesmo a complexidade da vida humana. Os perigos, as surpresas, o acaso e todas as vicissitudes da vida transosmotiza-se virtualmente.
Daí as invasões, as fofocas, as denúncias, as agressões que fluem virtualmente. Como prepará-los? como controlar o que se manifesta na surdina dos quartos, nos conluios das salas de conversação e nos labirintos subjetivos de cada um? Eis a questão. A sociedade tem que se preparar e debater com frequência e assiduidade via escola e família, essa questão.
Nunca eles foram tão prósperos na digitação, movimentam os teclados com uma agilidade impressionante. Nunca escreveram tanto, durante horas intermináveis, criando uma linguagem decodificada e propícia aos segundos do tempo, à corrida imediata, à pressa dos tititis e, numa só largada, conectam-se em várias páginas a um só tempo. O raciocínio está mais ágil, os dedos mais dançarinos e o pensamento mais veloz. Considerações que devemos levar em conta, se quisermos fazer uma análise segura e promissora.
Tem razão Pierre Levy, "a internet é a projeção de tudo o que há no espírito humano", vou mais longe, a internet somos nós. Mundos diversificados e diferentes: a geração da vivência virtual e a geração do veículo virtual. Como estamos no segundo dos mundos, a nossa liberdade se dá pelo hiato entre o locutor e o interlocutor, um espaço de silêncio, uma esfera não contínua; enquanto eles, mergulham fundo no mar da virtualidade. Mas, ambos, somos ciberculturais.
Sergio Nunes
PS: NÃO DEIXEM DE LER O PIERRE LÉVY!!!

A INTELIGÊNCIA COLETIVA
Agência RBS – O sr. diz que a Internet criou um espaço democrático, em que mais gente tem acesso à informação e maior chance de se manifestar. Mas nem todo mundo tem acesso à Internet. Isso não acabaria aumentando a distância entre pobres e ricos, por exemplo? 
Pierre Lévy – Os que têm acesso à Internet estão conectados com a inteligência coletiva, todos os conhecimentos possíveis e todas as pessoas, todos os grupos de discussão. É algo vivo e muito democrático. Uma comunicação horizontal, não como a do jornal, do rádio ou da TV, que é vertical. Quem participa do movimento da cibercultura vive num universo cada vez mais democrático. Os que não participam estão obviamente excluídos. Isso é muito inquietante. A boa notícia é que há um aumento do número de conexões. A Internet é o sistema de comunicação que se reproduziu mais rapidamente em toda a história dos sistemas de comunicação. Há 10 anos, havia menos de 1% do planeta conectado. Hoje, em certos países, na Escandinávia, 80% da população está conectada. Em certos Estados norte-americanos, já se ultrapassou 50%. 
Agência RBS – Em países pobres é bem diferente. 
Lévy – Os dois países do mundo em que o aumento de conexões é mais forte são o Brasil e a China. Você não pode ser impaciente. Já é extraordinária a rapidez com que tudo isso vem ocorrendo. Antes de a Internet chegar a todo mundo, é preciso tempo. Se você pensar que o alfabeto foi inventado há 3 mil anos e somente depois de alguns séculos a maioria da humanidade passou a ler... 
Agência RBS – O sr. acha que vivemos um momento tão importante quanto o do advento da imprensa? 
Lévy Mais importante. Quando se inventou a imprensa, o resultado mais importante foi talvez a criação da comunidade científica, graças aos livros e revistas que traziam números corretos, desenhos corretos. Com a imprensa, a humanidade pôde acumular conhecimento. Os sábios puderam se comunicar uns com os outros. O problema da memória foi resolvido. Os homens puderam se concentrar sobre a observação e a experimentação. Hoje, a participação ativa não está mais limitada a um pequeno grupo, a comunidade científica. Todas as pessoas podem participar dessa inteligência coletiva. É uma escala maior. O resultado provavelmente em uma dezena de anos será o fim das fronteiras nacionais, um governo planetário, uma nova forma de democracia, com participação mais direta. 
Agência RBS – Não haveria mais os líderes, as pessoas que comandam? 
Lévy – No futuro, todo mundo vai comandar. Vão acabar as pessoas que comandam. 
Agência RBSÉ uma utopia.
LévySim. É uma utopia. Se você houvesse dito no início do século 18 que em dois séculos haveria o sufrágio universal na maioria dos países do mundo, diriam que você estava louco. A cada salto no sistema de comunicação, na inteligência coletiva da humanidade, se tem mais liberdade. 
Agência RBS – O sr. acredita que o advento da web chega a afetar a construção do pensamento do homem contemporâneo? 
Lévy – Isso já começou. As pessoas hoje não aprendem a contar como contavam antes da calculadora. O uso que se faz da memória é completamente diferente. Temos todas as informações disponíveis na Internet. Não precisamos mais saber as coisas de cor. Os instrumentos de percepção se tornaram coletivos. Do Canadá, posso saber o que se passa em Porto Alegre. Posso olhar por tudo, pelo interior do corpo humano, imagens médicas etc. Isso transforma totalmente nossa percepção do mundo. 
Agência RBS – Isso muda a vida até de quem não tem acesso à Internet? 
Lévy – Sim. Se muda todo o funcionamento da sociedade, muda também a sociedade para aquele que não está conectado. 
Agência RBS – Como o sr. vê o que poderíamos chamar de mau uso que se faz da Internet? A pornografia infantil, por exemplo. 
Lévy – A Internet é uma espécie de projeção de tudo que há no espírito humano. No espírito humano, o sexo ocupa uma parte muito grande. É algo biológico. Se não fôssemos obcecados por sexo, não nos reproduziríamos. Temos uma certa agressividade. Se não tivéssemos, a espécie humana teria desaparecido. Essa agressividade nos serviu muito na época pré-histórica. Hoje, é preciso sublimar essa agressividade, assim como se faz com a sexualidade. Podemos sublimar a sexualidade no amor, por exemplo. Mas digamos que o instinto bruto permanece. Os comportamentos agressivos acabam se manifestando. O ciúme, os maus sentimentos que existem no espírito humano também vão aparecer na Internet. É um espaço de pensamento e comunicação em que não há censura. O que é interessante é que há menos hipocrisia.